O Sr. Abiel é dono de uma grande banca de frutas na praça da cidade e todos os dias é visitado pelo mendigo Jacob, que vem lhe pedir uma fruta e umas moedas cunhadas. Abiel, homem religioso, nunca negou o pedido do Jacob, mesmo sabendo que ele usava as moedas para comprar algumas doses de bebida alcoólica e dormir na calçada, embriagado, até o cair da tarde. Percebeu que um homem o acordava e ficava a conversar com ele por vários minutos e, antes de ir-se embora, dava-lhe uma garrafa com água e depois partia. E isso repetiu-se por algumas semanas, até que Abiel começou a perceber mudanças no mendigo. Ele continuava a vir pedir-lhe uma fruta pela manhã, recebia as moedas dele, mas já não se embriagava, e sim, comprava sempre algo diferente para comer durante a noite. Como todos os dias pela manhã, chegou Jacob “o mendigo” para falar com o Sr. Abiel, que foi logo pegando uma maçã e algumas moedas e oferecendo a ele. Jacob aceitou a maçã, agradeceu, porém desta vez não aceitou as moedas, e em lugar delas, lhe pediu trabalho. Abiel espantou-se com gigantesca mudança de atitude, e mais ainda quando observou que o estranho que conversava sempre com ele, estava ao longe observando tudo sorrindo, e logo depois partiu como sempre fez.
Não suportando tanta curiosidade, o comerciante perguntou ao mendigo o que o fez mudar tão rápida e radicalmente de atitude. Jacob sorriu e começou a lhe contar:
Não suportando tanta curiosidade, o comerciante perguntou ao mendigo o que o fez mudar tão rápida e radicalmente de atitude. Jacob sorriu e começou a lhe contar:
-Aquele senhor, diariamente, durante algumas semanas, conversou comigo e me falou muitas coisas sobre a minha própria vida que eu não enxergava e que me fizeram mudar de atitude. No início ele perguntou se eu queria mudar e sair daquela vida. Eu respondi que sim, mas não tinha forças. Então ele trouxe uma garrafa com água, e pediu que eu bebesse todos os dias. Era um líquido amargo e disse que me ajudaria a abandonar o álcool. Explicou-me que quando eu conseguisse me recuperar, lembraria sempre do amargor daquela água, e do tempo em que eu vivia bêbado dormindo na calçada, e depois, quando não precisasse mais bebê-la, apreciaria muito mais a água comum, o alimento saudável, e daria muito mais valor a vida, pois teria conhecido o seu lado amargo, o seu lado cruel. Contou-me sobre o significado do meu nome, Jacob “aquele que vence”, e me falou para não ter pressa, que pensasse sempre durante a noite nas coisas que ele me falava, que bastava que eu subisse um degrau por vez, sem ter a necessidade de saber o que teria no final da escada, mas sempre ir em frente, um passo após o outro. Contou-me lindas passagens da Bíblia, e seu significado, de como Salomão construiu o Templo de Jerusalém e sobre a antiga arte de seus construtores. Coisas de que eu já havia ouvido falar, mas não com aqueles detalhes, que me prenderam tanto a atenção. A sabedoria, a força e a beleza de suas palavras foi o que me reergueu tão rapidamente, pois entravam em meus ouvidos como música suave e lapidavam o meu espírito. Eu sonhava com aquelas histórias, eram como as ondas do mar trabalhando sobre as pedras, fazendo-as polidas e belas. Agora eu sei que o homem e o trabalho são como o corpo e a alma, o primeiro não é nada sem o segundo. Por isso, Sr. Abiel, além de estar aqui hoje para lhe agradecer a tolerância que teve comigo, vim pedir-lhe trabalho e não moedas.
- Puxa, Jacob, eu estou até emocionado com a sua metamorfose e a determinação daquele senhor em ajudá-lo. Claro, venha trabalhar comigo! Mas me diga, quem é aquele homem, pois nunca o havia visto por aqui antes?
-Falou-me, por várias vezes, que era filho de uma viúva e que vinha de uma tal de Loja de São João, cuja divisa é a “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Seu Abiel ficou calado por alguns segundos, pois aquelas palavras lhe eram bem familiares, seu avô as usava muito... e com os olhos úmidos falou baixinho:
-Ah! Meu amigo Jacob, já percebi tudo. Aquele era simplesmente um verdadeiro homem de bem, e isso é o que importa.
VAMOS AO TRABALHO!!!
“O homem de bem é como um diamante lapidado, jamais voltará ao estado bruto. Pode-se pisar nele e até jogá-lo na lama, que mesmo no fundo do poço ele sempre será um diamante.” (Paulo Regent)
Paulo Regent