sexta-feira, 20 de julho de 2012

A VAIDADE


Um menino e seu avô conversando...
- Vovô, o senhor é vaidoso?
O Homem ficou surpreso com a pergunta do menino, afinal tem apenas nove anos.
- E por que me pergunta isso? Disse o avô.
- É que eu ouvi o senhor conversando com aquele seu amigo, que o senhor chama de Irmão. Lembro que falavam sobre vaidade e diziam como era ruim. Afinal, o que é vaidade vovô?
O avô olha para o pequenino, coça o queixo com a barba grisalha já por fazer, e tenta achar uma resposta que o faça compreender.
- Lembra-se do seu ursinho de pelúcia branco, que ganhou no Natal quando tinha seis anos, e sua prima queria brincar com ele e você chorou muito e não deixou?
- Sim, vovô, eu me lembro.
- Pois é! Aquilo é o ciúme. Você gostou tanto do ursinho que não queria que ninguém o tocasse. Mas depois que conversamos, mesmo choramingando um pouquinho, você controlou o seu ciúme e emprestou.
- Você lembra quando fomos visitar o titio e tivemos que pegar a barca, e você disse que não iria, pois estava com medo que a barca afundasse? Só depois que conversamos com você por alguns minutos, lhe dizendo que estávamos juntos e que nada iria acontecer, você tomou coragem, controlou o seu medo e entrou conosco?
- Sim, vovô, eu me lembro.
- Então, vaidade meu filho, é como o ciúme e como o medo, todos nós possuímos. Não há como não ter, só precisamos mantê-los sob controle, em níveis bem baixos. Quando um ser humano não consegue controlar a sua vaidade, muitas coisas ruins podem acontecer com ele. Vaidade é quando você faz algo de bom e espera por elogios, por aplausos ou por recompensas depois. Você gosta quando alguém lhe faz um elogio?
- Sim, eu gosto.
- Pois, então, todos nós gostamos de elogios, porém devemos sempre fugir deles, mas sempre fazer por merecê-los. Nunca devemos fazer alguma coisa pensando em recompensas, ou nos elogios, ou nos aplausos, mas fazer porque aquilo deve ser feito, porque vai ajudar a alguém. A vaidade não leva a nada!
Quando se faz algo pensando em recompensas, elogios, e eles não vêm, chega em seu lugar a frustração, e isso também não é bom. Porém, se o fizermos sem esperar nada em troca, não será importante se ninguém aplaude ou elogia, porque não era essa a nossa intenção, mas sim ser útil. Quanto à sua primeira pergunta, se sou vaidoso, respondo-lhe que sim, como qualquer pessoa, mas aprendi com o tempo como mantê-la sob controle, em níveis muito baixos, gostaria muito que tivéssemos o poder de extingui-la para sempre, mas sabemos que isso é impossível, porque a vaidade é inerente ao ser humano.

Vaidade consiste em uma estima exagerada de si mesmo, uma afirmação esnobe da própria identidade.” - Citações do Wikiquote.
Paulo Regent
 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O ESPANTALHO


          A lua cheia deixa derramar o seu luar sobre o terreno coberto com a plantação de milho, enchendo de luz cada espiga, fazendo-as semelhantes a pequenas luminárias acesas, pequenos candeeiros de pé, dourados e reluzentes, transformando aquela grande propriedade agrícola, num enorme e deslumbrante quadro de luzes prateadas e douradas. No meio a esta beleza reluzente, lá está ela, uma figura tosca, rústica, grosseira, o grande rei do milharal, destoando com aquela imensa harmonia. Ao longe os grilos entoam seus cantos para atrair suas fêmeas à cópula, os insetos noturnos exaltam o luar de prata sobrevoando os campos dourados num show que só a mãe natureza poderia conceber. E lá está ele, o senhor espantalho, que só assustaria mesmo algum dessabido, que estivesse passando por ali aquelas horas, e que houvesse esquecido de sua existência no meio do milharal.
O sol então dá o seu primeiro sinal de vida, lá do oriente, os primeiros raios de sua luz iluminam a noite que se vai. Os pássaros já cantam alto e sobrevoam a procura de alimento para os filhotes.
- Ah! Agora sim... O grande rei do milharal vai mostrar o seu poder. Nada haverá de se aproximar desta plantação. Fala então o espantalho com os botões do seu paletó.
Neste momento, um bando de corvos se aproxima, e pousa sobre o arame da cerca que limita a propriedade.
- Olá espantalho! Acho que esses apetitosos milhos já estão prontos para a colheita, não? Disse o corvo líder.
- Não se aproximem de minhas plantações, seus inúteis! Nem ousem!
- Inúteis? Suas plantações? Ah!Ah!Ah! Gracejou o corvo líder, e continuou...
- Vejamos bem quem é o inútil aqui... Enquanto fala, o corvo líder pega uma espiga e a debulha, dividindo os grãos com os seus parentes, companheiros de voo.
- Parem com isso ou eu... Neste momento é interrompido pelo corvo.
- Ou eu o que? Não me diga que você vai sair daí dessa sua zona de conforto para me espantar. Fica aí o tempo todo enganando os trabalhadores do campo, de braços abertos como o rei do pedaço, e nós nem ligamos pra você. O que nós pegamos todos os dias não é nem percebido por eles, porque há muito para se pegar, e você, na verdade, não serve pra nada. Lógico que eles lhe adoram e lhe veneram, achando que sua presença no milharal impõe respeito. Mas, na verdade, você não espanta nem as borboletas. Ah!Ah!Ah!.
- Assim vocês me humilham. Eles me colocaram aqui achando que a minha presença espantaria os pássaros que comem as espigas, que a nossa plantação seria próspera, que eu trabalharia do sol a pino até o findar do dia.
- Pois é, espantalho, mas ainda bem que você se acomodou, só assim podemos roubar um pouquinho desse milho delicioso. No início mostrou até serviço, mas ficou só no início mesmo, hoje você só quer saber de ficar aí de braços abertos, com essa cara de sábio, mas que na verdade, debaixo desse seu chapéu só tem palha mesmo.
- Pelo menos, eu sirvo pra alguma coisa! Disse o espantalho. Se eu realizasse algo de útil mesmo, vocês morreriam de fome. Eu sei que tenho muito por fazer, mas pra que? Está tão confortável aqui! Daqui de cima, eu vejo os caras trabalhando, semeando, colhendo, vejo até vocês comendo algumas espigas, e daqui há algum tempo, eles me trocam por outro espantalho, eu vou é deixar rolar. O próximo é que se preocupe com a fazenda!

- Pois bem! Exclamou o corvo. Nós vamos fazer uma coisa por você. Logicamente não vamos parar de comer o milho, por outro lado, você também não tem competência nenhuma pra espantalho. Uma vez ou outra, vamos passar por aqui em bandos, justamente quando os trabalhadores estiverem na colheita e fingiremos um ataque. Você vai aproveitar o sopro do vento e vai balançar os braços com firmeza. Então sairemos em revoada, simulando muito medo de você, e iremos embora por aquele momento. Um dia, sabe-se lá quando, vai surgir alguém meio a esse povo que vive aí nesse enorme campo verde e amarelo do milharal, um cara honesto, de fibra, de coragem, um líder de verdade, que vai acabar com esse nosso trem da alegria, com as nossas festas, com as nossas falcatruas, pode ser até que ele nem tenha nascido ainda. Ah!Ah!Ah!.
- Muito bom! Disse o espantalho. Sendo assim está feito! Eu vou continuar respeitado como o rei do milharal e vocês poderão fartarem-se a vontade... Mas olhem lá, hein! Não vão me criar problemas. Sejam discretos para que ninguém perceba nada. Coloquem os milhos sob as asas, entre as penas e não deixem que ninguém perceba. Podem trazer seus parentes também, mais com muita discrição...sempre!
E até hoje, tudo continua assim, o povo do campo verde e amarelo do milharal, continua acordando cedo, com o raiar do sol, trabalhando até o findar do dia. Os corvos continuam roubando o fruto de seus trabalhos, o delicioso e rico milho dourado, trazendo seus parentes e familiares para comerem juntos, porque a terra é fértil e há muito para se colher, até que um dia, quem sabe, um líder de verdade apareça, para mostrar a esse povo, que o espantalho, na verdade, é só um enfeite, e que precisamos mesmo é de gente honesta e não de... CORVOS e ESPANTALHOS.
Paulo Regent

sábado, 7 de julho de 2012

DIVINA

         
          Havia um homem, que mendigava pela cidade, pedindo esmolas a todos que passavam. Sem rumo certo, ia daqui pra ali e de lá pra cá, não tinha um lar, e mal se alimentava, pois era um “invisível”, ninguém lhe dava atenção, ninguém se interessava por ele. Costumava pegar restos de comida nas lixeiras dos restaurantes e lanchonetes, antes que fechassem as portas e jogassem o lixo fora, e era assim que êle conseguia matar a sua fome. Durante a noite, acomodava-se debaixo de uma marquise na rua principal, e ali mesmo dormia. Quando o dia amanhecia tudo começava novamente, as pessoas passando para os seus trabalhos, os jovens estudantes dirigindo-se para as suas escolas e, afinal, quem iria parar para dar atenção aquele malcheiroso e sujo, sentado na calçada a pedir uns trocados? Todos tinham as suas vidas e seus compromissos, quem iria se importar com aquela pessoa que nada tinha a oferecer, somente a pedir?
         Certa manhã, acordou o pobre homem como sempre, sem esperança e achando-se sem destino, mas algo havia de diferente, meio a todo aquele turbilhão de derrotas e tristezas, lembrou-se do sonho da noite passada, que havia sonhado com sua mãe, esta lhe aparecera linda e jovem, como era quando ele ainda era pequenino, um lindo sonho, e ela lembrou-lhe do que lhe ensinara no passado, antes de sua morte, que Deus não abandona ninguém, mas nós sim é que o abandonamos, e lhe pediu que conversasse com ele esta noite, uma conversa de filho para Pai. E assim fez! Seguiu sua rotina durante o dia e a noite voltou a sua velha marquise, mas desta vez, antes de dormir, conversou com Deus, desabafou, chorou e lhe pediu perdão por tê-lo abandonado desde que sua mãe falecera, nunca mais havia voltado a conversar com Êle, havia perdido a Fé, ficara até revoltado com Êle por ter levado a sua mãe tão cedo, por ele ter rolado de casa em casa de parentes, sendo maltratado por eles até fugir e largar-se no mundo. E assim adormeceu antes de terminar aquela conversa.
          Algumas noites se passaram... Vários dias amanheceram após aquela conversa com Deus, e tudo parecia como antes, a mesma rotina, nada... exceto... uma cadela que na noite passada chegou-se a deitou-se ao seu lado, para aquecer-se e como estava realmente muito frio, o mendigo não se incomodou, pois ela também o aquecia. Como não tinha com quem conversar, falava com a cadela, que o olhava como se o entendesse:
__ Eu não sei o que você viu em mim, sou um pobre coitado que não tem onde cair morto, não tem o que comer e o pouco que consigo ainda tenho que dividir contigo. Não sei por que Deus me mandou você? Agora são dois a passar fome!
E a bichinha só lhe abanava o rabo!
          No dia seguinte, o homem acordou com três jovens moças que passavam para ir à escola e pararam por causa da cachorrinha. Elas riam e brincavam com ela:
__ Mas que cadelinha bonitinha, como é o nome dela? Ela é sua?
          E enquanto o homem respondia as perguntas, outras pessoas que passavam, iam colocando algumas moedas em sua caixinha que, até alguns dias atrás, nunca havia visto uma só moeda, e tudo por causa das jovens e da cadelinha, sensibilizando assim alguns transeuntes. E todos os dias mais jovens paravam para brincarem com ela e, cada vez mais, a caixinha do pedinte ficava mais cheinha, já dava até para ele almoçar e comprar ração para ela. Pouco tempo depois, aquilo tudo que acontecia ali na rua chamou a atenção de um repórter de jornal que fez uma bela reportagem sobre aquilo tudo. Conversou várias horas com ele, sobre sua vida, sua história e sobre a cadelinha “Divina”, foi assim que ele passou a chamá-la. Sua história correu o mundo, e três dias depois, sua vida não era mais a mesma, muita gente o procurara, já havia conseguido tratamento de saúde, um emprego e um lugarzinho pequenino, mas quente e aconchegante para ele e sua “Divina” morarem.

          Se essa história lhe parece familiar, não pense que é um plágio, ela é muito comum, e existem muitas versões dela na vida real. Quantas vezes você deve ter conversado com Deus, foi atendido, e nem percebeu? Quantas pessoas abandonam sua fé e custam a perceber que não foi Deus quem os abandonou?

Eu dedico este texto a você, que o lê neste momento, e com certeza não chegou aqui por uma coincidência.

A felicidade não entra em portas trancadas.” (Chico Xavier)
Paulo Regent