Levantei cedo,
como sempre, acabou o carnaval, o horário de verão e finalmente o ano novo vai
começar. Tomei um banho rápido e frio focado na economia de água e energia,
afinal não podemos mais esbanjar como antigamente, quem tem medo do escuro que
acenda uma vela! Meu carro que era meu meio de transporte para o trabalho
transformou-se num caro objeto de luxo enfeitando minha garagem, quem é que
pode com o preço atual dos combustíveis? Caminhar até a parada de ônibus então nem se
fala, virou uma aventura perigosa, por sinal, os assaltos são constantes. Um
amigo meu foi assaltado duas vezes pelo mesmo meliante, e pensou em sugerir
marcar um horário com ele para o próximo assalto, com direito ao desconto de
sua passagem para não perder o dia de trabalho. Nos meus tempos de adolescente
o policial era respeitado e temido pelos bandidos, e hoje vão para os quartéis
com os uniformes dentro das mochilas, por falta de segurança, quem diria?
O próximo
passo agora é conseguir fazer com que o ônibus pare no ponto, pois a maioria
deles passa lotado e quando resolve parar é um empurra-empurra dos diabos, não
cabe nem um alfinete lá dentro, se quiser andar de ônibus no horário de rush
tem que fazer regime! Como disse um conhecido empresário: “Quem acredita em promessa de político é ingênuo ou burro, pois eles só
sabem pedir votos aos pobres, dinheiro aos ricos e mentir para os dois”. As
promessas de melhoria nos transportes de massa vão ficar mesmo no papel!
Depois de
muita briga consegui entrar no ônibus, mas viajar sentado nem pensar, rezar
para que ninguém esmague o seu pé ou te acuse de abuso sexual. Li sobre um
senhor que quase foi linchado no ônibus por ter ficado entalado entre duas
pessoas e ter sido acusado de ficar passando a mão na “traseira” de uma
senhora. Até conseguir explicar que tinha mal de Parkinson... coitado!
Quase duas
horas depois, após muitos empurrões, bolsas e mochilas passando nas suas
costas, e sovacos malcheirosos na sua cara, atravessamos a belíssima Ponte
Rio-Niterói, que é muito linda... vista do alto e fora do horário de rush,
claro! O sentimento é de vitória, um verdadeiro Indiana Jones. E finalmente chego ao trabalho, um pouco atrasado, mas com muitas
justificativas, vários ônibus que não pararam no ponto, e o enorme
engarrafamento na Ponte. Mal entrei e já dei de caras com meu chefe, disse que
iria descontar o meu atraso, me olhou de cima à baixo, reclamou das minhas
roupas amarrotadas e perguntou se eu não tinha ferro de passar, quase respondi
que era a crise energética, depois reclamou dos meus cabelos despenteados e por
fim perguntou ironicamente se não havia água lá em casa, pois estava com as
orelhas cheias de espuma.
Assim ninguém aguenta!
Querer ser ecologicamente correto colaborando para um planeta
sustentável e ser, ao mesmo tempo, um trabalhador comum no Brasil ... não dá!!!
Paulo Maurício Regent