quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Algumas boas lembranças


          
A Professora
           Outro dia eu estava a meditar e me passou um filme pela cabeça, mas não era aquele filme que todos dizem que revemos a nossa vida em todos os mínimos detalhes. Esse filme era diferente, tinha um tema, as minhas lembranças se fixaram em todos os momentos que me deram prazer, naqueles momentos inesquecíveis, que você guarda na lembrança juntamente com um sentimento, e toda vez que você se lembra dele, sente exatamente como se estivesse lá, como se revivesse aquele momento. São os bons momentos da vida, e como é bom lembrar deles. Lembro muito bem de uma professora que tive, e eu a adorava, eu a achava linda, maravilhosa, e olha que eu devia ter uns oito ou nove anos de idade, acredite quem quiser. A parte que mais eu gostava era quando ela se aproximava de mim por algum motivo e se curvava para falar comigo e os meus olhos não conseguiam olhar outra coisa senão seus seios, que coisas lindas, aquele decote larguinho, aqueles seios fartos e aquela covinha que se fazia entre eles. Acho que às vezes ela percebia, pois colocava as mãos sobre o decote para cobri-lo. Era a própria inocência com desejos ainda não entendidos. Teve também a Diana, minha primeira paixão. Puxa, como eu gostei da Diana! Ela era a menina mais inteligente da sala, ou melhor, do colégio, nós sem querer estávamos sempre competindo pois eu também tinha ótimas notas e ficava sempre entre os primeiros. Ela todo mês recebia o prêmio da melhor da sala e eu ficava com o segundo e as vezes o terceiro lugar, eu a admirava. Vejam vocês, já naquela época eu imaginava que iríamos casar quando crescêssemos, e eu não tinha coragem de lhe dizer nada disso, ficava olhando pra ela conversando com as outras meninas e sonhava muito. Lembro que houve um ano que eu consegui superá-la nas notas e cheguei a ganhar o prêmio de melhor aluno do colégio e ela ficou com o segundo lugar, e foi nesse ano que eu escrevi um bilhetinho pra ela, seria o último ano dela na escola, pois iria sair para outra. Não lembro bem o que escrevi, pedi a uma amiguinha dela para entregar e saí. Fiquei orgulhoso de minha coragem, só que nunca tive uma resposta dela, nem sei mesmo se a coleguinha dela entregou o meu bilhete e nunca mais nos vimos. Vocês já perceberam como as professoras mexem com a libido dos pré-adolescentes? Pois é... eu tive uma outra professora, essa era de inglês, loirinha, bonitinha, nessa época eu já devia ter uns onze ou doze anos, mas o pessoal da sala não era mole não, sabe o que eles faziam? Colocavam um espelhinho na ponta dos sapatos e quando ela passava naqueles pequenos corredores apertados entre as carteiras, bastava ela passar e era um tal de se esticar os pés com espelhinho para olhar por debaixo da saia dela. Coitada! Nunca percebeu que fez, muitas vezes, a alegria daqueles pequenos taradinhos. Mas havia uma coisa de positivo nisso tudo, ela sempre foi muito elogiada pela diretoria por ser a professora que conseguia reunir sempre todos os alunos, principalmente os meninos, em sala nas suas aulas. Oh, God!
          Foi nessa mesma época que eu tive a minha primeira namorada e, consequentemente, meu primeiro beijo. Ela era bonitinha, cabelinhos claros, tinha onze anos e eu treze, nunca mais me esqueci daquele beijo, inocente, apenas o toque dos lábios, ela ficou ruborizada, e eu apaixonado, só o fato de segurar suas mãos aceleravam o meu batimento cardíaco e outras coisas mais. Já se foram 43 anos, mas aquelas emoções, aqueles sentimentos ainda os sinto quando lembro, essas são as boas coisas da vida, aquilo que vale a pena lembrar. Logicamente eu tive muitas outras fortes emoções após isso, que estão guardadas com muito carinho aqui comigo, coisas de que gosto de me lembrar, tive outros beijos maravilhosos os quais ainda sinto o sabor e o cheiro daquele momento, a primeira transa a gente nunca se esquece, tenha sido ela boa ou frustrante. A melhor transa, aquela inesquecível, aquela mulher que te fez virar os olhos. Puxa! Como diz o nosso Rei Roberto Carlos... São tantas Emoções! Eu torço para que essa garotada de hoje passe também por esses momentos inesquecíveis e que tenham muitas emoções, guardem os sentimentos numa caixinha dentro de si próprios para que, no futuro, tenham essas lembranças maravilhosas que temos hoje, de um tempo onde fazíamos tudo que o nosso corpo pedia, mas de uma forma diferente, de uma forma romântica, quando tudo era proibido, mas consentido as escondidas. Os segredos da mulher eram valorizados, e ao descortinarem-se tínhamos “a visão”, uma visão maravilhosa do paraíso. 

Paulo Regent

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Qualquer coincidência é mera semelhança.



      Arialdo tinha um sonho, queria ser jornalista, fazer faculdade e trabalhar na televisão. Quantas vezes ele se imaginou apresentando o Jornal Nacional.
___ Boa noite! Aqui começa o seu Jornal Nacional, apresentado por...
___ William Bonner... Fátima Bernardes e... Arialdo Fagundes.
      Era a glória! Mas enquanto isso não acontece, arranjou um emprego na Rádio da cidade, que por ser a única, tem uma enorme audiência.  Depois dos primeiros testes, ele foi aprovado para trabalhar como assistente de radialista, um tipo de aprendiz de locutor. Sua estréia ficou acertada para hoje, após o discurso do Prefeito e do Secretário de Saúde, e seria apenas a leitura de um pequeno texto falando dos eventos na cidade pelos festejos natalinos que se aproximam.
      Correm na cidade alguns boatos que não são nada agradáveis a reputação do Prefeito, e sua preocupação é que venham a prejudicar suas pretensões políticas. Fala-se, a meia-boca, de desvios de verbas, licitações fraudulentas, enriquecimento ilícito e outros termos muito conhecidos por todos nós. Reservou então, o horário nobre da rádio, para falar ao povo, sobre seu novo projeto, sua menina dos olhos, o Hospital da Cidade, cujas obras são justamente o alvo de todas as denúncias.
      Duas situações adversas: Por um lado a felicidade do Arialdo pela estréia na rádio, quando lerá um pequeno texto; por outro lado a preocupação do Prefeito quanto ao discurso, que deverá ser bem convincente, não poderá haver nenhuma falha e nem deixar uma pequena dúvida sequer quanto à lisura de sua administração.
      O grande momento é chegado, o carro oficial da Prefeitura parou na porta da rádio e com ele o Prefeito, o Secretário e dois assessores. E assim foi... O Prefeito falou por, mais ou menos, quinze minutos, usando de todo o seu carisma e poder de persuasão. Saiu certo de haver feito o que planejara, passando então a palavra ao Secretário, que por sua vez, usou dos mesmos artifícios.
      Enquanto isso,  Arialdo passava às vistas, mais uma vez, o texto que teria que ler, que dizia o seguinte:   “Aproveitando as ilustres presenças de nosso Prefeito e Secretário de Saúde, a Rádio da Cidade, vem convocar a todos para a Festa de Natal, neste domingo, quando teremos a chegada de Papai Noel acompanhado por vários Duendes assistentes, também teremos alguns personagens folclóricos como o Saci Pererê e a Curupira, além de uma farta distribuição de brinquedos. Tragam suas crianças!” 
      Só isso...
      Mas Arialdo, inebriado pela sua estréia, e logo após um discurso do Prefeito e falas do Secretário, não satisfeito com tão poucas palavras que lhe deram para falar, resolveu improvisar, para abrilhantar ainda mais este acontecimento histórico. Segurou o microfone e aguardou alguns segundos finais das palavras do Secretário que encerrava dizendo assim:
___ Nós acreditamos no Senhor Prefeito!
___ Nós acreditamos nos Secretários Municipais!
___ Nós acreditamos que tudo irá dar certo!
___ Nós acreditamos na honestidade de toda esta administração!
E assim que o Secretário terminou, entrou o Arialdo eloqüentemente, aproveitando a deixa:
___ Nós acreditamos em Papai Noel
___ Nós acreditamos em Duendes!
___ Nós acreditamos em Saci Pererê...
      Bem... O texto ele nem terminou... Dizem que naquela mesma noite, Arialdo saiu fugido e pegou um ônibus para São Paulo, e nunca mais se ouviu falar dele. Algumas pessoas contam que ele é entregador de Pizza e mudou de nome.
 Coisas da vida...

Paulo Regent

sábado, 8 de outubro de 2011

Assim é na Terra como no Céu


BIG BANG

          Eu sempre fui fascinado pelo céu, principalmente as noites estreladas. Quantas vezes fiquei  deitado no chão do terraço de um prédio onde morava, por várias horas, observando as estrelas, aquelas coisas lindas, inexplicáveis e maravilhosas, piscando e enfeitando o céu negro de pontinhos azuis iluminados. Eu viajava junto com as horas e com os inúmeros meteoros que riscam as noites e só quem fica observando pode perceber, são muitos mesmo. Naquela época eu sonhava que seria um dia um astronauta, e que veria bem de perto os astros e estrelas.  Mas a vida tem outros planos e eu não cheguei a tanto, porém o céu ainda me fascina e descobri hoje que ele é mais fascinante do que eu imaginava naquela época, seus mistérios foram crescendo junto comigo e quanto mais a gente tenta aprender sobre ele mais mistérios ele nos mostra. Como somos pequeninos, minúsculos, microscópicos diante dessa imensidão, satélites, planetas, estrelas, sistemas solares, galáxias, buracos negros e mais, que aos poucos vamos descobrindo, e que ainda há muito mais segredos a serem desvendados pela ciência, ou como já nos dizia William Shakespeare: “Há mais coisas entre o céu e a Terra que supõe a nossa vã filosofia”.  E o Big Bang, não é fantástico? Os físicos tem uma teoria que explica a origem do universo de uma “explosão” primordial. E, no caso do universo, tudo o que existe surgiu desse ponto inicial. É difícil compreender e admitir que tudo surgiu do nada, por isso que até hoje ninguém conseguiu uma explicação racional que nos diga o que havia antes do Big Bang. Isso tudo nos leva a pensar que, se tudo surgiu de um mesmo ponto, então somos feitos da mesma poeira, da mesma energia, que as estrelas, que os astros.
      “Demo-nos conta, algum tempo mais tarde, de que somos feitos da mesma matéria que as estrelas. São os astrofísicos que o afirmam, todas as formas que vê a nossa volta, sejam elas sólidas ou gasosas, são constituídas pelos mesmos átomos de base, pelas mesmas partículas que nós. Então, somos feitos como as estrelas? Somos feitos delas, e talvez pudéssemos estudá-las em nós. Já não somos a medida do mundo, somos o mundo.”  Jean-Claude Carriere entrevista a Albert Einstein.

     Nosso planeta e tudo que nele existe, foi criado da mesma matéria que formou o universo. As árvores, toda essa vegetação existente, a água, as montanhas, os animais de qualquer espécie, os insetos... tudo que aqui existe... somos feitos da mesma poeira, da mesma energia, da mesma matéria primordial, somos todos iguais. Por esse motivo temos uma ligação muito forte com tudo o que existe e que conhecemos, tudo que nos afeta, afetará o todo, da mesma forma em que tudo o que fizermos que venha a afetar a natureza, nos será fatal, não podemos agir como vírus, conforme foi abordado no filme Matrix, no qual o Agent Smith explica a Morpheus que os humanos não passam de vírus que destroem o planeta e precisam ser travados. Precisamos nos conscientizar de que somos irmãos das árvores e das estrelas, da lua da Terra e do sol, e que precisamos preservar e não destruir. O pouco que conhecemos do universo já nos fez perceber essa relação, que a nossa sobrevivência depende da preservação e da reconstrução daquilo que destruímos, e custamos a aprender que “ assim é na Terra como no Céu.”

Paulo Regent

Cidadão Rio-Niteroiense
















Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá
Onde canta o AR-15
Por onde você passar
Tem as praias mais bonitas
Louras, morenas, mulatas
Tem chacina nas favelas
Tem criança abandonada
Sequestro tem noite e dia
Polícia, traficante e ladrão
Tem gente de bem sem trabalho
Política e corrupção
Tem olhos noturnos sem sono
Vagando daqui e pra ali
Tal qual mariposas procuram
O brilho das noites daqui
Procuram pelo pó da terra
Que vem de lá, de avião
Guerrilha vem descendo a serra
Valei-nos São Sebastião
Pão de Açúcar, Corcovado,
Lagoa, Ipanema e Leblon
Tem Copacabana que o Mundo
Todo conhece a canção
Tem bola rolando com classe
De quem é Penta-campeão
No templo sagrado da arte
Louvado és tu Maracanã!
Tem samba, tem bossa, tem graça
Mistura de raças sem fim
Saudade que nunca passa
De Tom de Janeiro Jobim
Tem doido varrido tentando
Salvar todo esse rincão
Valei-nos Araribóia
Valei-nos São Sebastião
Tem sol de Janeiro a Janeiro
Tem bala perdida no chão
Sou de Niterói, minha vida
Sou do Rio, minha paixão
Tem Blitz de dia, é polícia
Tem Blitz de noite, é ladrão
Se correr o bicho pega
Se ficar me levam o cordão
Tem gente que chutou a Santa
Na frente da televisão
Valei-nos Nossa Senhora
Valei-nos São Sebastião

Paulo Regent

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Pedra Brasil


          

          Não há lugar nenhum nesse mundo que eu queira estar senão aqui na minha terra, com meu povo, brasileiros como eu. Bem sabemos que há muito o que se fazer para melhorar, que há muitas arestas a se desbastar, nessa imensa pedra bruta chamada Brasil. Nós nos orgulhamos de nossa pátria, terra de nossos ascendentes, nossos avós, nossos pais e também de nossos descendentes, e é por eles que continuamos aqui, tentando fazer a nossa parte, seja ela pequena ou grandiosa, não importa, mas contribuímos de alguma forma. Não podemos deixar que os maus tomem conta, e olhem que eles aparecem como uma praga de gafanhotos, em nuvem, arrasando tudo por onde passam, quanto mais fazemos para exterminá-los, mais nos surpreendem, reaparecendo em dobro, e as vezes, são cooptados alguns Jedis que achávamos que estivessem do lado positivo da força.
            A maioria de nós consegue visualizar o lindo diamante que existe dentro da Pedra Brasil, e para que ele aflore, muito há que se aprender, muito há que se corrigir. Muitos de nós ainda vive do velho refrão “O que os olhos não veem, o coração não sente” e não entendem que assim viveremos como aquela história em que o sapo é cozinhado vivo, e assim vão nos cozinhando aos pouquinhos, sem que percebamos:


Se você tentar colocar um sapo numa água quente,
ele reage e salta pra fora. Agora se você colocar o
sapo numa água fria, dentro de uma panela e
colocar no fogo para esquentar ele vai se sentindo
cômodo e relaxado e quando se der conta, não
consegue mais sair e acaba cozido.”


          Convivemos “bovinamente” com esse mar de lama que se instalou entre nós cujo nome se tornou banal, motivo de várias piadas e contos engraçados, chamado corrupção. Aqueles em quem depositamos nossa confiança, dentro da antiga urna, ou mesmo através de uma máquina eletrônica, nos apunhalam pelas costas, e nos traem cinicamente. A vergonha desapareceu com a certeza da impunidade, já não conseguimos distinguir os que nos protegem daqueles que nos roubam e nos fazem mal, parecemos uma Nau à deriva, cujo comandante, por melhor que sejam as suas boas intenções, não consegue dar um rumo a esta enorme caravela, porque há ventos soprando para todos os lados, para o lado de seus próprios interesses, quando deviam soprar juntos para uma mesma direção. Precisamos pular para fora dessa caldeira que nos cozinha o quanto antes, precisamos preparar bons filhos para deixar nesta terra que tanto amamos, e torcer para que eles possam fazer aquilo que não conseguimos, mas que estamos lutando para tal. Que Deus nos dê a força que precisamos para deixarmos de ser gado e passemos a ser os coadjuvantes de nosso destino, que possamos cantar o nosso hino com aquele verdadeiro sentimento de patriotismo, tão raro nos dias de hoje e que somente vemos nos campos de futebol.

Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado!”
Rui Barbosa.  



Paulo Regent

Misterioso Deserto do Saara

  Uma colaboração de Jorge de Andrade Nascimento 

     A população nativa do Egito não existe mais. Há quatro mil anos AC começava a miscigenação daquele povo milenar. Hoje, um legítimo egípcio já não existe. Exceto aquele povo do deserto - os Tuaregues.

     Hoje no deserto vivem os Beduínos, que são árabes e os Tuaregues, que são egípcios.

     A população egípcia sofreu com as conquistas de gregos, romanos, árabes e outros povos que dominaram e subjugaram sua população. Entretanto, os Tuaregues permaneceram fiéis às suas raízes, pois contavam com o seu enorme conhecimento do Deserto do Saara. Sabiam quando aconteceriam as terríveis tempestades de areia, conheciam os movimentos e deslocamentos das tempestades e dos ventos e sempre que previam uma ameaça utilizavam estes conhecimentos para sua proteção e sobrevivência. Muitas vezes estas tempestades duravam meses e nenhum exército resistia a elas, por mais treinados que fossem. Os tuaregues se dedicavam à construção de tendas, à fabricação de roupas e óleos feitos de gorduras de cabras, camelos, ovelhas e gado, e também produziam sabões perfumados, perfumes, incensos, mirra, e um tipo de fumo que se usava para o narguilé. Fabricavam também cerveja e outras bebidas fermentadas que até hoje são produzidas por este povo guerreiro e valente.

     Eles também faziam a segurança das caravanas que cruzavam o deserto, para intercâmbio com outros povos da região.

     Em certa ocasião vinha um Tuaregue montado em seu camelo, cruzando o deserto, já bem perto de Bassorá. Podia-se ouvir a voz de um muezzim em uma Mesquita, convocando os árabes para uma oração para Alá. Estava ele na sua caminhada tranqüilo, quando sentiu um cheiro de uma comida gostosa, levada pela brisa que raramente sopra naquele lugar. Ele então dirigiu-se para o local, guiado pelo seu olfato apuradíssimo.

     Ao chegar ao local percebeu que era um caldeirão onde estava cozinhando um ensopado que parecia estar delicioso, pois o cheiro gostoso e agradável não poderia enganar o seu olfato.

     Ele desceu do seu camelo, procurou ao redor e não encontrou ninguém nas redondezas, parou e pensativo, perguntou a si mesmo, devo aproveitar este vapor que sai deste caldeirão? Está esvaindo-se pelo ar. Se eu utilizá-lo, estarei cometendo algum delito? Os Tuaregues são honestos, honrados e de bons costumes, não cometem atos contra o próximo, que venham a denegrir a sua imagem de bom homem, bom pai, amigo, altruísta e humanitário - de guerreiro justo e clemente.

     Ele então resolveu aproveitar aquele vapor, que estava sendo desperdiçado, evaporando-se pelo ar rarefeito do misterioso deserto. Sentou-se e com a ponta da sua adaga, pegou de dentro da sua mochila um pedaço de pão, já endurecido pelo tempo, espetou o pedaço de pão e colocou em cima do caldeirão, para absorver o precioso vapor que saia daquele ensopado, a fim de amolecer o pão e torná-lo mais apetitoso e saciar a sua fome.

     Estava ele ali, compenetrado naquela tarefa de captar o vapor, para melhorar o gosto de sua broa, quando surge um Beduíno, dizendo: Afaste-se do meu caldeirão... O quê você esta fazendo?
_ Eu estou apenas colocando esta broa no vapor do seu caldeirão. Não toquei em nada.
Furioso o Beduíno reclama: _Eu estava recolhendo as minhas cabras e você aproveitou a minha ausência para furtar o vapor do meu ensopado.
_Não meu amigo. Eu nada furtei, apenas utilizava do vapor do seu caldeirão para amolecer este pedaço de broa.
_Eu quero que você pague, pelo uso indevido e sem permissão do que me pertence. Você estava me roubando. Quero receber por isto.
O Tuaregue pacientemente tentava explicar ao Beduíno que não cometera nenhum delito. Mas o Beduíno esbravejava, _quero que me pague.
No auge do descontrole do Beduíno, surge uma patrulha militar do comando reinante naquela região. O oficial pergunta o que estava acontecendo. Após ouvir ambas as justificativas disse ele _ eu não tenho competência para resolver esta questão, vamos até o alojamento e o comandante vai intervir neste problema. Partiram então para o referido alojamento. Lá chegando, o oficial reporta ao seu superior o que tinha ouvido de ambas as partes. O comandante, um homem de bom senso, pediu que cada um desse sua versão do fato. O Beduíno expõe o ocorrido e diz _ eu quero que ele me pague. O Comandante volta-se para o Tuaregue e pergunta se tudo aquilo que o Beduíno disse era verdadeiro. O Tuaregue disse que sim, porém, que ele nada roubou, pois o vapor estava se dissipando no ar, não sendo aproveitado.
Isto é verdade? Perguntou o comandante ao beduíno.
Sim meu senhor é verdade. Todavia eu quero receber pelo que ele fez.

     O Comandante vira-se para o Tuaregue, olha fixamente nos seus olhos, olhos firmes, olhos de um verdadeiro guerreiro do deserto, homem sem medos, homem firme, forte e diz: Tens, moedas cunhadas? Sim, tenho algumas.
Mostre-me. O Tuaregue tira da cintura uma sacola, levantando a sacola por umas das mãos e mostrando ao Comandante. Este, fala: Sacuda. O Tuaregue sacode a sacola com as moedas. Virou-se para o Beduíno e pergunta: Você ouviu?
Sim, meu senhor.
Novamente o Comandante pede para o Tuaregue sacudir a sacola. No ato contínuo pergunta ao Beduíno, você ouviu? Sim, meu senhor. Mais uma vez o Comandante manda o Tuaregue sacudir a sacola e pergunta ao Beduíno: ouviste? Sim, meu senhor.

Então vocês estão quitados.
Como assim meu senhor? Indaga o Beduíno.
E o Comandante responde: da mesma forma que ele usou do vapor do seu caldeirão, não lhe prejudicando em nada, desta mesma forma ele está lhe pagando, pois você ouviu os barulhos de suas moedas cunhadas.
Vão embora e entrem em reconciliação.


Jorge de Andrade Nascimento