segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Misterioso Deserto do Saara

  Uma colaboração de Jorge de Andrade Nascimento 

     A população nativa do Egito não existe mais. Há quatro mil anos AC começava a miscigenação daquele povo milenar. Hoje, um legítimo egípcio já não existe. Exceto aquele povo do deserto - os Tuaregues.

     Hoje no deserto vivem os Beduínos, que são árabes e os Tuaregues, que são egípcios.

     A população egípcia sofreu com as conquistas de gregos, romanos, árabes e outros povos que dominaram e subjugaram sua população. Entretanto, os Tuaregues permaneceram fiéis às suas raízes, pois contavam com o seu enorme conhecimento do Deserto do Saara. Sabiam quando aconteceriam as terríveis tempestades de areia, conheciam os movimentos e deslocamentos das tempestades e dos ventos e sempre que previam uma ameaça utilizavam estes conhecimentos para sua proteção e sobrevivência. Muitas vezes estas tempestades duravam meses e nenhum exército resistia a elas, por mais treinados que fossem. Os tuaregues se dedicavam à construção de tendas, à fabricação de roupas e óleos feitos de gorduras de cabras, camelos, ovelhas e gado, e também produziam sabões perfumados, perfumes, incensos, mirra, e um tipo de fumo que se usava para o narguilé. Fabricavam também cerveja e outras bebidas fermentadas que até hoje são produzidas por este povo guerreiro e valente.

     Eles também faziam a segurança das caravanas que cruzavam o deserto, para intercâmbio com outros povos da região.

     Em certa ocasião vinha um Tuaregue montado em seu camelo, cruzando o deserto, já bem perto de Bassorá. Podia-se ouvir a voz de um muezzim em uma Mesquita, convocando os árabes para uma oração para Alá. Estava ele na sua caminhada tranqüilo, quando sentiu um cheiro de uma comida gostosa, levada pela brisa que raramente sopra naquele lugar. Ele então dirigiu-se para o local, guiado pelo seu olfato apuradíssimo.

     Ao chegar ao local percebeu que era um caldeirão onde estava cozinhando um ensopado que parecia estar delicioso, pois o cheiro gostoso e agradável não poderia enganar o seu olfato.

     Ele desceu do seu camelo, procurou ao redor e não encontrou ninguém nas redondezas, parou e pensativo, perguntou a si mesmo, devo aproveitar este vapor que sai deste caldeirão? Está esvaindo-se pelo ar. Se eu utilizá-lo, estarei cometendo algum delito? Os Tuaregues são honestos, honrados e de bons costumes, não cometem atos contra o próximo, que venham a denegrir a sua imagem de bom homem, bom pai, amigo, altruísta e humanitário - de guerreiro justo e clemente.

     Ele então resolveu aproveitar aquele vapor, que estava sendo desperdiçado, evaporando-se pelo ar rarefeito do misterioso deserto. Sentou-se e com a ponta da sua adaga, pegou de dentro da sua mochila um pedaço de pão, já endurecido pelo tempo, espetou o pedaço de pão e colocou em cima do caldeirão, para absorver o precioso vapor que saia daquele ensopado, a fim de amolecer o pão e torná-lo mais apetitoso e saciar a sua fome.

     Estava ele ali, compenetrado naquela tarefa de captar o vapor, para melhorar o gosto de sua broa, quando surge um Beduíno, dizendo: Afaste-se do meu caldeirão... O quê você esta fazendo?
_ Eu estou apenas colocando esta broa no vapor do seu caldeirão. Não toquei em nada.
Furioso o Beduíno reclama: _Eu estava recolhendo as minhas cabras e você aproveitou a minha ausência para furtar o vapor do meu ensopado.
_Não meu amigo. Eu nada furtei, apenas utilizava do vapor do seu caldeirão para amolecer este pedaço de broa.
_Eu quero que você pague, pelo uso indevido e sem permissão do que me pertence. Você estava me roubando. Quero receber por isto.
O Tuaregue pacientemente tentava explicar ao Beduíno que não cometera nenhum delito. Mas o Beduíno esbravejava, _quero que me pague.
No auge do descontrole do Beduíno, surge uma patrulha militar do comando reinante naquela região. O oficial pergunta o que estava acontecendo. Após ouvir ambas as justificativas disse ele _ eu não tenho competência para resolver esta questão, vamos até o alojamento e o comandante vai intervir neste problema. Partiram então para o referido alojamento. Lá chegando, o oficial reporta ao seu superior o que tinha ouvido de ambas as partes. O comandante, um homem de bom senso, pediu que cada um desse sua versão do fato. O Beduíno expõe o ocorrido e diz _ eu quero que ele me pague. O Comandante volta-se para o Tuaregue e pergunta se tudo aquilo que o Beduíno disse era verdadeiro. O Tuaregue disse que sim, porém, que ele nada roubou, pois o vapor estava se dissipando no ar, não sendo aproveitado.
Isto é verdade? Perguntou o comandante ao beduíno.
Sim meu senhor é verdade. Todavia eu quero receber pelo que ele fez.

     O Comandante vira-se para o Tuaregue, olha fixamente nos seus olhos, olhos firmes, olhos de um verdadeiro guerreiro do deserto, homem sem medos, homem firme, forte e diz: Tens, moedas cunhadas? Sim, tenho algumas.
Mostre-me. O Tuaregue tira da cintura uma sacola, levantando a sacola por umas das mãos e mostrando ao Comandante. Este, fala: Sacuda. O Tuaregue sacode a sacola com as moedas. Virou-se para o Beduíno e pergunta: Você ouviu?
Sim, meu senhor.
Novamente o Comandante pede para o Tuaregue sacudir a sacola. No ato contínuo pergunta ao Beduíno, você ouviu? Sim, meu senhor. Mais uma vez o Comandante manda o Tuaregue sacudir a sacola e pergunta ao Beduíno: ouviste? Sim, meu senhor.

Então vocês estão quitados.
Como assim meu senhor? Indaga o Beduíno.
E o Comandante responde: da mesma forma que ele usou do vapor do seu caldeirão, não lhe prejudicando em nada, desta mesma forma ele está lhe pagando, pois você ouviu os barulhos de suas moedas cunhadas.
Vão embora e entrem em reconciliação.


Jorge de Andrade Nascimento 

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