quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O SILÊNCIO DOS BONS.

                    Vivemos num tempo em que a humanidade procura a evolução tecnológica e pretere a espiritual, e uma grande parte dela continua vivendo na obscuridade, na Idade Média. Os cientistas, a cada dia que passa, conseguem decifrar mais e mais os mistérios desse universo maravilhoso em que vivemos, já ouvimos falar no Bóson de Higgs, que surgiu logo após a sua criação pela explosão do Big-Bang, e é chamada de “partícula de Deus”, porque assim como Deus, está em todas as partes, mas que é difícil de se definir. Também nos disseram já haver encontrado sinais de que “Europa”, uma das luas de Júpiter, possui água em sua superfície e que existe um oceano abaixo de uma vasta camada de gelo, e que pode ser um habitat para que a vida se forme, informações enviadas pela sonda Galileu, lançada em 1989. Robôs de várias formas diferentes são criados para facilitar a nossa vida, a medicina cada vez mais avançada, fazendo descobertas que nos permitirão viver mais a cada ano que passa. Mas uma parte da humanidade parece não acompanhar essas maravilhas, eu tomo como exemplo o Brasil, porque sou brasileiro e vivo aqui, ou melhor, convivo com tudo isso que, melancolicamente vejo acontecer. É com tristeza que assisto todos os dias aos noticiários que nos mostram cenas de como o nosso povo mais humilde é maltratado e humilhado por uma pequena parte da sociedade, que privilegiada por uma existência controladora, não dá a mínima. A saúde pública de nosso país é uma vergonha, a nossa polícia é uma vergonha, e os políticos... @*$#*&%!!! Pois é, não tenho palavras para defini-los. Há quem compare o político honesto com ETs, isso mesmo, Extra-Terrestres, porque há quem creia que exista, mas nunca viu. Há os céticos... “político honesto, tá doido? Isso não existe não!”... E há aqueles que só acreditam vendo. Antigamente a nossa sociedade era dividida em classes: A, B, C e D, ou melhor, Rica, Média Alta, Média Baixa e Pobre. Hoje bastam duas: Os honestos e desonestos. Do primeiro grupo faz parte a maioria de nossa população que é pobre, sofredora e manipulada, que trabalha quando pode e paga impostos que são desviados para satisfazerem necessidades particulares de poucos, que não tem direito a uma vida digna, com escolas decentes, hospitais públicos decentes, e lógico também, de algumas poucas pessoas que conseguiram vencer honestamente, mesmo em meio a esta podridão instalada, que tem uma vida digna alcançada pelos seus próprios esforços. O segundo grupo é de uma minoria privilegiada que vive de falcatruas, apropriando-se de bens que deveriam pertencer a todos e que são protegidos por uma legislação arcaica que já deveria ter sido revisada há séculos. Este segundo grupo é formado por aqueles que insistem em fazer força para manter nosso País na Idade Média, porque lhes é conveniente assim, onde a justiça não tem vendas, onde a segurança e a cultura para os mais humildes é algo desnecessário, porque esses poucos de quem falo, não sofrem por este mal, pois tem fácil acesso à boas escolas e aos hospitais caros e de alto nível além de segurança 24 horas por dia. É neste Reino de Impunidade e protecionismo que vivemos, e quem sabe um dia, possamos construir naves, para mandarmos de volta aos seus planetas de origem, os terríveis ETs , não os honestos, mas o desonestos, que nos amedrontam e nos controlam ao seu bem querer, que consomem as nossas verbas públicas. Também aqueles que deveriam ser os representantes da lei nas ruas e que a usam para benefício próprio achando-se donos delas, os maus policiais, que fazem sentir-nos envergonhados, pois afinal esta Terra não é de alguns poucos, mas de todos nós BRASILEIROS.


"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons."
Martin Luther King      


Paulo Regent

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A VIDENTE

“Nada é mais fantástico do que o cotidiano” - Essa frase é atribuída ao poeta e escritor francês Louis Aragon, que nasceu em Paris no ano de 1897, e eu concordo plenamente com ela. As pessoas comuns de nosso dia-a-dia, aqueles que cruzam a estrada de nossas vidas, e que naquele momento não nos chamam muito a atenção, e só mais tarde, quando as lembranças surgem é que lhes damos o devido valor, são esses os personagens desse nosso cotidiano fantástico.
            Um desses personagens, que por um breve piscar de olhos diante da eternidade, cruzou o meu caminho, chama-se Celi, uma senhora vidente, é só o que me lembro de seu nome, morava na Rua Maximiano em Niterói, numa casa no alto de uma escadaria que nos deixava ofegantes ao chegarmos lá em cima. Estive lá por várias vezes acompanhando minha mãe que se consultava com ela, isto foi lá pelos anos 70, ela era cartomante e tinha vidência por um copo de vidro sem asperezas e límpido, com água e uma pedra dentro dele. Minha curiosidade e interesse pelo assunto cresceram tanto que passei de acompanhante de minha mãe à consulente. Sabemos bem que charlatães existem desde os primórdios a enganar os incautos e menos avisados, mas este não é o caso aqui. Dentre todas as previsões que ela me fez, certeiras por sinal, a que mais me impressionou aconteceu em 17 de Junho de 1970, e eu jamais poderia esquecer isso, porque na verdade, aquela previsão não me pertencia, mas sim a todos os brasileiros. Nós aguardávamos para sermos atendidos na sala de espera da casa e eu estava impaciente, pois faltavam alguns minutos para se iniciar o jogo entre as seleções de Brasil e Uruguai pela Copa do Mundo de Futebol. Com 15 anos de idade, andava de um lado para o outro da sala querendo ir logo pra casa para assistir ao jogo que seria transmitido ao vivo pela televisão. O tempo foi passando até que chegou a nossa vez. Nessa época eu ainda estava naquela fase de curiosidade e a vidente também não tinha muito que falar de minha vida particular, só das provas, das atividades escolares, coisas pequenas e banais. Ela conversou muito com minha mãe, o jogo já havia começado, então fez uma pausa, saiu e voltou à sala das consultas onde estávamos. Foi então que ela se voltou pra mim e disse:
-Rapaz, eu não tenho muito a lhe dizer hoje não, mas o que vou lhe contar vai valer por tudo o que eu não falei pra você hoje ainda.
-Sim Celi, o que é?
-Enquanto estive lá fora, dei uma olhada rápida no jogo e o Brasil está perdendo para o Uruguai por 1X0.
Eu fiquei muito chateado, mas continuei ouvindo.
-Não se preocupe não garoto, o Brasil vai ganhar de 3X1. Clodoaldo vai empatar, Jairzinho vai fazer o segundo gol e Rivelino vai fazer o terceiro no finalzinho do jogo.
Naquele momento não sabia o que dizer, fiquei feliz, mas não dei muita bola não, afinal ela estava me dizendo até os nomes dos que fariam os gols, meras conjecturas talvez, difícil de crer.
          Chegando em casa, estavam todos sentados à frente da TV, e nós chegamos com essa notícia, pois o Brasil ainda perdia por 1X0. Não demorou muito e as previsões começaram a acontecer, Clodoaldo empatou aos 44 min. do 1º Tempo. No segundo Tempo Jairzinho fez o segundo gol aos 31 min. e no finalzinho do jogo, aos 44 min., Rivelino fez um golaço, o terceiro. Parecia um filme que eu já havia assistido, mas era ao vivo e real, tudo conforme ela previu. Eu sou testemunha de uma vidente de verdade! Quanto à Celi, nós ainda nos consultamos com ela por alguns anos, muitas coisas boas nos foram preditas, graças a Deus! Um belo dia voltamos para mais uma consulta e tivemos a notícia de que ela havia se mudado e não deixara endereço com ninguém. Coisa estranha! E nunca mais tivemos notícias dela.
Paulo Regent

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

NA CIRANDA DO BEM

          O jardim da casa de Dona Talita é lindo e muito bem cuidado, muitas plantas e flores de várias espécies, que mesmo com os seus oitenta anos, pessoalmente cuida, todos os dias, é o seu passatempo. Sua casa e o pouco que ainda tem dentro dela são seus únicos bens. Seu maior orgulho é o seu neto, que foi estudar na Europa há quatro anos e está prestes a se formar, e que para isso precisou hipotecar sua casa para pagar as despesas dele no exterior. Os pais dele morreram quando ele ainda era pequeno e foi criado por ela com o mesmo carinho que criou seu filho. O rapaz mandava mensalmente a maior parte do valor da mensalidade da hipoteca que ela completava com uma pequena parte, mas há quatro meses deixou de enviar, pois perdeu o emprego que tinha por lá em suas horas vagas e ainda não conseguira arranjar outro. A situação atual não é nada boa, pois Dona Talita vem recebendo cartas de cobrança há algum tempo e não tem mais como pagar as mensalidades da hipoteca, sua pensão a cada ano que passa está cada vez menor, e ainda tem o seu tratamento médico mensal mais os remédios que tem que tomar diariamente. Muita despesa mesmo!
          Dona Talita, mulher religiosa, tem o costume de todos os dias sentar em sua cadeira de balanço na varanda de sua casa, de frente para seu belo jardim e rezar o seu terço, às vezes o rosário completo. Sempre agradece as bênçãos recebidas, mas hoje, após receber mais uma carta de cobrança acompanhada de um aviso de perda do imóvel em função da falta de pagamento, acrescentou um pedido especial. Temendo perder sua propriedade, pediu à Sagrada Família que protegesse seu neto e o ajudasse a terminar seus estudos, pois ela ficaria bem em um asilo para velhos, mesmo amando muito a sua casa, seu jardim, amava muito mais a seu neto e só queria o seu bem.
          No terceiro dia, após seu pedido especial, suas preces são interrompidas por uma moça que aparenta ter uns dezoito anos, mais ou menos, que a chama em seu portão.
- Boa tarde Senhora!
- Boa tarde! Responde Dona Talita mandando-a entrar. Esse é seu costume, todos são bem-vindos em sua casa, e nunca se arrependeu disso.
A moça senta-se no segundo degrau que dá para a varanda enquanto Dona Talita continua em sua cadeira de balanço.
- A tarde hoje está quente... A Senhora me dá um copo d'água, por favor?
As duas vão até a cozinha, a moça senta-se em uma das cadeiras enquanto bebe a sua água.  Dona Talita lhe prepara um café fresco e lhe serve com leite e algumas bolachas enquanto conversam.
- De onde você vem? Perguntou.
- Eu venho do outro lado da cidade para tentar arranjar alguma coisa pra fazer, uma faxina, uma limpeza de quintal, a senhora não sabe quem esteja precisando não? A situação é bem difícil lá em casa e estamos passando por necessidades financeiras, já devemos muito ao mercadinho e eles não nos deixam mais comprar.
- Minha filha! Disse Dona Talita. Os problemas parecem que estão rondando por aqui, e todos nós temos problemas, cada um diferente do outro, e estamos aqui neste mundo para nos ajudarmos, uns aos outros. Eu não lhe conheço... Você não me conhece... E mesmo assim estamos em minha cozinha conversando. Você fez lembrar-me de uma canção que conheço: “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho isso eu lhe dou.”
-Sim... Isso é Ágape... Padre Marcelo... Quem não conhece? Disse a moça.
Então Dona Talita pega algum dinheiro, uma soma de uns cinqüenta Reais, que tem guardado dentro de um pequeno vaso sobre a estante da sala e falou:
-Fique com isso, minha filha, pois pra mim esse valor não irá resolver nada mesmo, eu precisaria de muito mais que isso para resolver o que preciso e como não tenho como conseguir, pra você será mais útil. Vá e pague a sua dívida no Mercadinho, ou parte dela se isso não for suficiente.
- Não Senhora, não posso aceitar.
- Aceite, minha filha, e vá com Deus.
          A moça agradece muito, e diz que quando pudesse devolveria a quantia, e sai correndo e acenando para a velha senhora, que volta e senta novamente em sua cadeira de balanço na varanda continuando suas orações. Desta vez seu semblante está mais sereno e conformado pela boa ação que acabara de realizar.
          Três semanas se passaram...
          Dona Talita está, como de costume, sentada em sua cadeira de balanço na varanda de sua casa, rezando o seu terço e observando o seu belo jardim, quando alguém grita no portão.
- Correeeeeiiiiooo! Carta pra Dona Talita! É a senhora?
- Sim meu filho, pode entrar.
O rapaz do Correio entra e a velha senhora, como habitualmente faz, oferece-lhe água e pergunta se aceita um cafezinho.
- Não senhora, muito obrigado, a água já me é suficiente. Esta carta acabou de chegar de Portugal.
- Ora! É do meu neto, ele estuda lá. E abre a carta começando a lê-la e aos poucos as lágrimas de felicidade e saudade escorrem-lhe pelo rosto.
          Minha querida vózinha!
          Escrevo-te esta carta para contar uma coisa muito estranha que me aconteceu aqui em Portugal. Há duas semanas o porteiro me entregou um envelope em branco, que foi deixado com ele na portaria do prédio para que me entregasse. Disse-me ele que foi uma moça aparentando ter uns dezoito anos, mais ou menos, e pediu que dissesse ser a mando de uma senhora chamada Maria. Eu lhe falei que não conhecia nenhuma Maria, mas o porteiro falou que ela o havia dado pelo meu nome e que não havia dúvidas de que o envelope seria para mim mesmo. Ao abri-lo senti um delicioso perfume de rosas, achei até que seria uma carta romântica, mas dentro dele havia um pedaço de papel com alguns números escritos e uma pequena soma em dinheiro, o equivalente a cinqüenta Reais dos nossos. Eu fiquei sem nada entender, coloquei-os sobre o armário esperando que a moça retornasse quando verificasse que havia se enganado em sua entrega, pois certamente não seria eu a pessoa a receber, mas sim alguém com o nome parecido com o meu. Mas ela não voltou. Então, sabes o que fiz Vózinha? Peguei aqueles números no envelope e joguei na loteria, pagando o jogo com uma parte do dinheiro que estava junto, o que sobrou dei ao primeiro pedinte que encontrei. E adivinhe só... NÓS GANHAMOS VÓZINHA! Foi um milagre mesmo, não dá para se explicar. Não se trata de uma fortuna, mas é o suficiente para pagarmos nossas dívidas aqui e aí no Brasil. Vá com alguém ao banco, pois já depositei uma boa soma em dinheiro para a senhora lá, e pague a hipoteca da casa. A minha formatura será no final do ano e quero a senhora aqui comigo.
Um beijo, seu neto...
Você acredita em milagres? Alguns não crêem... Outros crêem... Aqui, nesta vida, tudo será sempre uma troca. Dar para Receber. Mas muitos a usam automaticamente esperando a recompensa Divina e esquecem-se de um detalhe muito importante e pouco observado, “o sentimento”, assim tudo se completa na constante tríade universal. Dar + Sentimento + Receber. A que remove montanhas, o desapego material, a força da oração, este é o grande Segredo.
"Pedi e vos será dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta! Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate a porta será aberta. Quem de vós dá ao filho uma pedra, quando ele pede um pão? Ou lhe dá uma cobra, quando ele pede um peixe? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedirem!
Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas".
Mateus 7:7-12                       
Paulo Regent