quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

NA CIRANDA DO BEM

          O jardim da casa de Dona Talita é lindo e muito bem cuidado, muitas plantas e flores de várias espécies, que mesmo com os seus oitenta anos, pessoalmente cuida, todos os dias, é o seu passatempo. Sua casa e o pouco que ainda tem dentro dela são seus únicos bens. Seu maior orgulho é o seu neto, que foi estudar na Europa há quatro anos e está prestes a se formar, e que para isso precisou hipotecar sua casa para pagar as despesas dele no exterior. Os pais dele morreram quando ele ainda era pequeno e foi criado por ela com o mesmo carinho que criou seu filho. O rapaz mandava mensalmente a maior parte do valor da mensalidade da hipoteca que ela completava com uma pequena parte, mas há quatro meses deixou de enviar, pois perdeu o emprego que tinha por lá em suas horas vagas e ainda não conseguira arranjar outro. A situação atual não é nada boa, pois Dona Talita vem recebendo cartas de cobrança há algum tempo e não tem mais como pagar as mensalidades da hipoteca, sua pensão a cada ano que passa está cada vez menor, e ainda tem o seu tratamento médico mensal mais os remédios que tem que tomar diariamente. Muita despesa mesmo!
          Dona Talita, mulher religiosa, tem o costume de todos os dias sentar em sua cadeira de balanço na varanda de sua casa, de frente para seu belo jardim e rezar o seu terço, às vezes o rosário completo. Sempre agradece as bênçãos recebidas, mas hoje, após receber mais uma carta de cobrança acompanhada de um aviso de perda do imóvel em função da falta de pagamento, acrescentou um pedido especial. Temendo perder sua propriedade, pediu à Sagrada Família que protegesse seu neto e o ajudasse a terminar seus estudos, pois ela ficaria bem em um asilo para velhos, mesmo amando muito a sua casa, seu jardim, amava muito mais a seu neto e só queria o seu bem.
          No terceiro dia, após seu pedido especial, suas preces são interrompidas por uma moça que aparenta ter uns dezoito anos, mais ou menos, que a chama em seu portão.
- Boa tarde Senhora!
- Boa tarde! Responde Dona Talita mandando-a entrar. Esse é seu costume, todos são bem-vindos em sua casa, e nunca se arrependeu disso.
A moça senta-se no segundo degrau que dá para a varanda enquanto Dona Talita continua em sua cadeira de balanço.
- A tarde hoje está quente... A Senhora me dá um copo d'água, por favor?
As duas vão até a cozinha, a moça senta-se em uma das cadeiras enquanto bebe a sua água.  Dona Talita lhe prepara um café fresco e lhe serve com leite e algumas bolachas enquanto conversam.
- De onde você vem? Perguntou.
- Eu venho do outro lado da cidade para tentar arranjar alguma coisa pra fazer, uma faxina, uma limpeza de quintal, a senhora não sabe quem esteja precisando não? A situação é bem difícil lá em casa e estamos passando por necessidades financeiras, já devemos muito ao mercadinho e eles não nos deixam mais comprar.
- Minha filha! Disse Dona Talita. Os problemas parecem que estão rondando por aqui, e todos nós temos problemas, cada um diferente do outro, e estamos aqui neste mundo para nos ajudarmos, uns aos outros. Eu não lhe conheço... Você não me conhece... E mesmo assim estamos em minha cozinha conversando. Você fez lembrar-me de uma canção que conheço: “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho isso eu lhe dou.”
-Sim... Isso é Ágape... Padre Marcelo... Quem não conhece? Disse a moça.
Então Dona Talita pega algum dinheiro, uma soma de uns cinqüenta Reais, que tem guardado dentro de um pequeno vaso sobre a estante da sala e falou:
-Fique com isso, minha filha, pois pra mim esse valor não irá resolver nada mesmo, eu precisaria de muito mais que isso para resolver o que preciso e como não tenho como conseguir, pra você será mais útil. Vá e pague a sua dívida no Mercadinho, ou parte dela se isso não for suficiente.
- Não Senhora, não posso aceitar.
- Aceite, minha filha, e vá com Deus.
          A moça agradece muito, e diz que quando pudesse devolveria a quantia, e sai correndo e acenando para a velha senhora, que volta e senta novamente em sua cadeira de balanço na varanda continuando suas orações. Desta vez seu semblante está mais sereno e conformado pela boa ação que acabara de realizar.
          Três semanas se passaram...
          Dona Talita está, como de costume, sentada em sua cadeira de balanço na varanda de sua casa, rezando o seu terço e observando o seu belo jardim, quando alguém grita no portão.
- Correeeeeiiiiooo! Carta pra Dona Talita! É a senhora?
- Sim meu filho, pode entrar.
O rapaz do Correio entra e a velha senhora, como habitualmente faz, oferece-lhe água e pergunta se aceita um cafezinho.
- Não senhora, muito obrigado, a água já me é suficiente. Esta carta acabou de chegar de Portugal.
- Ora! É do meu neto, ele estuda lá. E abre a carta começando a lê-la e aos poucos as lágrimas de felicidade e saudade escorrem-lhe pelo rosto.
          Minha querida vózinha!
          Escrevo-te esta carta para contar uma coisa muito estranha que me aconteceu aqui em Portugal. Há duas semanas o porteiro me entregou um envelope em branco, que foi deixado com ele na portaria do prédio para que me entregasse. Disse-me ele que foi uma moça aparentando ter uns dezoito anos, mais ou menos, e pediu que dissesse ser a mando de uma senhora chamada Maria. Eu lhe falei que não conhecia nenhuma Maria, mas o porteiro falou que ela o havia dado pelo meu nome e que não havia dúvidas de que o envelope seria para mim mesmo. Ao abri-lo senti um delicioso perfume de rosas, achei até que seria uma carta romântica, mas dentro dele havia um pedaço de papel com alguns números escritos e uma pequena soma em dinheiro, o equivalente a cinqüenta Reais dos nossos. Eu fiquei sem nada entender, coloquei-os sobre o armário esperando que a moça retornasse quando verificasse que havia se enganado em sua entrega, pois certamente não seria eu a pessoa a receber, mas sim alguém com o nome parecido com o meu. Mas ela não voltou. Então, sabes o que fiz Vózinha? Peguei aqueles números no envelope e joguei na loteria, pagando o jogo com uma parte do dinheiro que estava junto, o que sobrou dei ao primeiro pedinte que encontrei. E adivinhe só... NÓS GANHAMOS VÓZINHA! Foi um milagre mesmo, não dá para se explicar. Não se trata de uma fortuna, mas é o suficiente para pagarmos nossas dívidas aqui e aí no Brasil. Vá com alguém ao banco, pois já depositei uma boa soma em dinheiro para a senhora lá, e pague a hipoteca da casa. A minha formatura será no final do ano e quero a senhora aqui comigo.
Um beijo, seu neto...
Você acredita em milagres? Alguns não crêem... Outros crêem... Aqui, nesta vida, tudo será sempre uma troca. Dar para Receber. Mas muitos a usam automaticamente esperando a recompensa Divina e esquecem-se de um detalhe muito importante e pouco observado, “o sentimento”, assim tudo se completa na constante tríade universal. Dar + Sentimento + Receber. A que remove montanhas, o desapego material, a força da oração, este é o grande Segredo.
"Pedi e vos será dado! Procurai e achareis! Batei e a porta vos será aberta! Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate a porta será aberta. Quem de vós dá ao filho uma pedra, quando ele pede um pão? Ou lhe dá uma cobra, quando ele pede um peixe? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai que está nos céus dará coisas boas aos que lhe pedirem!
Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles. Nisto consiste a Lei e os Profetas".
Mateus 7:7-12                       
Paulo Regent

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Em breve seu comentário será disponibilizado.
Obrigado pela Visita!

Your comment will be soon available.
Thanks for visiting!