“Nada é mais fantástico do que o cotidiano” - Essa frase é atribuída ao poeta e escritor francês Louis Aragon, que nasceu em Paris no ano de 1897, e eu concordo plenamente com ela. As pessoas comuns de nosso dia-a-dia, aqueles que cruzam a estrada de nossas vidas, e que naquele momento não nos chamam muito a atenção, e só mais tarde, quando as lembranças surgem é que lhes damos o devido valor, são esses os personagens desse nosso cotidiano fantástico.
Um desses personagens, que por um breve piscar de olhos diante da eternidade, cruzou o meu caminho, chama-se Celi, uma senhora vidente, é só o que me lembro de seu nome, morava na Rua Maximiano em Niterói, numa casa no alto de uma escadaria que nos deixava ofegantes ao chegarmos lá em cima. Estive lá por várias vezes acompanhando minha mãe que se consultava com ela, isto foi lá pelos anos 70, ela era cartomante e tinha vidência por um copo de vidro sem asperezas e límpido, com água e uma pedra dentro dele. Minha curiosidade e interesse pelo assunto cresceram tanto que passei de acompanhante de minha mãe à consulente. Sabemos bem que charlatães existem desde os primórdios a enganar os incautos e menos avisados, mas este não é o caso aqui. Dentre todas as previsões que ela me fez, certeiras por sinal, a que mais me impressionou aconteceu em 17 de Junho de 1970, e eu jamais poderia esquecer isso, porque na verdade, aquela previsão não me pertencia, mas sim a todos os brasileiros. Nós aguardávamos para sermos atendidos na sala de espera da casa e eu estava impaciente, pois faltavam alguns minutos para se iniciar o jogo entre as seleções de Brasil e Uruguai pela Copa do Mundo de Futebol. Com 15 anos de idade, andava de um lado para o outro da sala querendo ir logo pra casa para assistir ao jogo que seria transmitido ao vivo pela televisão. O tempo foi passando até que chegou a nossa vez. Nessa época eu ainda estava naquela fase de curiosidade e a vidente também não tinha muito que falar de minha vida particular, só das provas, das atividades escolares, coisas pequenas e banais. Ela conversou muito com minha mãe, o jogo já havia começado, então fez uma pausa, saiu e voltou à sala das consultas onde estávamos. Foi então que ela se voltou pra mim e disse:
-Rapaz, eu não tenho muito a lhe dizer hoje não, mas o que vou lhe contar vai valer por tudo o que eu não falei pra você hoje ainda.
-Sim Celi, o que é?
-Enquanto estive lá fora, dei uma olhada rápida no jogo e o Brasil está perdendo para o Uruguai por 1X0.
Eu fiquei muito chateado, mas continuei ouvindo.
-Não se preocupe não garoto, o Brasil vai ganhar de 3X1. Clodoaldo vai empatar, Jairzinho vai fazer o segundo gol e Rivelino vai fazer o terceiro no finalzinho do jogo.
Naquele momento não sabia o que dizer, fiquei feliz, mas não dei muita bola não, afinal ela estava me dizendo até os nomes dos que fariam os gols, meras conjecturas talvez, difícil de crer.
Chegando em casa, estavam todos sentados à frente da TV, e nós chegamos com essa notícia, pois o Brasil ainda perdia por 1X0. Não demorou muito e as previsões começaram a acontecer, Clodoaldo empatou aos 44 min. do 1º Tempo. No segundo Tempo Jairzinho fez o segundo gol aos 31 min. e no finalzinho do jogo, aos 44 min., Rivelino fez um golaço, o terceiro. Parecia um filme que eu já havia assistido, mas era ao vivo e real, tudo conforme ela previu. Eu sou testemunha de uma vidente de verdade! Quanto à Celi, nós ainda nos consultamos com ela por alguns anos, muitas coisas boas nos foram preditas, graças a Deus! Um belo dia voltamos para mais uma consulta e tivemos a notícia de que ela havia se mudado e não deixara endereço com ninguém. Coisa estranha! E nunca mais tivemos notícias dela.
Paulo Regent
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