Resgate da dignidade |
O Beco
das Acácias fica no centro da cidade, e todo dia suas lojas abrem
pontualmente às 08h00min, é um comércio bem variado e conservador,
porém naquela manhã algo de novo mudaria aquela rotina, havia um
cão amarelo, sujo e com algumas pequenas feridas pelo corpo, deitado
à porta de um de seus estabelecimentos comerciais. Com a aproximação
do comerciante para abrir as portas de sua Loja, o cão o afrontou,
rosnando e latindo para ele, ao ponto de não conseguir chegar perto
da porta. Passados alguns minutos, dois dos seus empregados chegaram
e o patrão pediu que expulsassem aquela fera de sua porta, e assim
fizeram, pegaram cada um uma vara de bambu e passaram a bater no cão
que tentava mordê-los e com muito custo conseguiram afastá-lo dali.
Durante todo o dia o assunto do Beco das Acácias foi o cão amarelo,
feroz e que atacava as pessoas que por ali passavam, sendo por isso
revidada a sua violência por parte delas. Ninguém gostava
daquele cão. Ele já se estabelecia naquela rua há alguns dias,
enquanto as pessoas o atacavam e fugiam dele, ele fazia o mesmo. Era
a prova concreta de que “violência gera violência”.
Passadas
algumas semanas ninguém mais havia visto o cão amarelo, que
desaparecera da mesma forma como surgira, porém alguns pequenos
furtos voltaram a ocorrer vez por outra em algumas lojas durante a
noite, que já não mais aconteciam pela presença daquele cão
amarelo, furioso e raivoso, que tanto atacava os clientes e os
funcionários durante o dia, bem como os meliantes e delinquentes
durante a noite. Até que numa certa manhã, uma senhora caminha pela
calçada com um cão amarelo preso à coleira, dócil e companheiro.
No mesmo instante, todos os comerciantes e frequentadores das Lojas
dali o reconheceram, e logo as pessoas acercaram-se daquela senhora
perguntando sobre a transformação daquela fera que diziam ser louca
e furiosa. A senhora contou-lhes que acontecera o mesmo com ela,
aquele cão aparecera na porta de sua residência e a atacara e
ameaçara mordê-la, porém sua atitude foi diferente, ao invés de
agredi-lo em resposta a agressão dele, ela com muito cuidado deu-lhe
água fresca e alimento e assim, aos poucos ganhou a sua confiança,
conseguindo tratá-lo das feridas e transformá-lo naquele cão
dócil, lindo e sociável.
Há
muitos anos atrás, um homem conhecido como o Profeta das ruas,
repetia noite e dia, e escrevia nas paredes da cidade “Gentileza
gera Gentileza”, e era chacoteado e ridicularizado pelas pessoas, e
poucos naquela época o entendiam. Assim procedeu a senhora, tratou
o cão com dignidade, carinho e gentileza e recebeu o mesmo em
retorno. Assim como ocorreu com o cão também ocorre com as pessoas,
se são tratadas com respeito e dignidade o retorno só poderá ser o
mesmo. Logicamente, seria mais fácil aquele grupo ofendido pelo cão
expulsá-lo de seu convívio quando que o correto seria tentar
resgatar a dignidade existente naquele ser, que com toda a certeza,
retornaria “gentileza” ao receber o mesmo.
Paulo Regent
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