quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O BECO DAS ACÁCIAS

Resgate da dignidade
          
          O Beco das Acácias fica no centro da cidade, e todo dia suas lojas abrem pontualmente às 08h00min, é um comércio bem variado e conservador, porém naquela manhã algo de novo mudaria aquela rotina, havia um cão amarelo, sujo e com algumas pequenas feridas pelo corpo, deitado à porta de um de seus estabelecimentos comerciais. Com a aproximação do comerciante para abrir as portas de sua Loja, o cão o afrontou, rosnando e latindo para ele, ao ponto de não conseguir chegar perto da porta. Passados alguns minutos, dois dos seus empregados chegaram e o patrão pediu que expulsassem aquela fera de sua porta, e assim fizeram, pegaram cada um uma vara de bambu e passaram a bater no cão que tentava mordê-los e com muito custo conseguiram afastá-lo dali. Durante todo o dia o assunto do Beco das Acácias foi o cão amarelo, feroz e que atacava as pessoas que por ali passavam, sendo por isso revidada a sua violência por parte delas. Ninguém gostava daquele cão. Ele já se estabelecia naquela rua há alguns dias, enquanto as pessoas o atacavam e fugiam dele, ele fazia o mesmo. Era a prova concreta de que “violência gera violência”.
           Passadas algumas semanas ninguém mais havia visto o cão amarelo, que desaparecera da mesma forma como surgira, porém alguns pequenos furtos voltaram a ocorrer vez por outra em algumas lojas durante a noite, que já não mais aconteciam pela presença daquele cão amarelo, furioso e raivoso, que tanto atacava os clientes e os funcionários durante o dia, bem como os meliantes e delinquentes durante a noite. Até que numa certa manhã, uma senhora caminha pela calçada com um cão amarelo preso à coleira, dócil e companheiro. No mesmo instante, todos os comerciantes e frequentadores das Lojas dali o reconheceram, e logo as pessoas acercaram-se daquela senhora perguntando sobre a transformação daquela fera que diziam ser louca e furiosa. A senhora contou-lhes que acontecera o mesmo com ela, aquele cão aparecera na porta de sua residência e a atacara e ameaçara mordê-la, porém sua atitude foi diferente, ao invés de agredi-lo em resposta a agressão dele, ela com muito cuidado deu-lhe água fresca e alimento e assim, aos poucos ganhou a sua confiança, conseguindo tratá-lo das feridas e transformá-lo naquele cão dócil, lindo e sociável.
           Há muitos anos atrás, um homem conhecido como o Profeta das ruas, repetia noite e dia, e escrevia nas paredes da cidade “Gentileza gera Gentileza”, e era chacoteado e ridicularizado pelas pessoas, e poucos naquela época o entendiam. Assim procedeu a senhora, tratou o cão com dignidade, carinho e gentileza e recebeu o mesmo em retorno. Assim como ocorreu com o cão também ocorre com as pessoas, se são tratadas com respeito e dignidade o retorno só poderá ser o mesmo. Logicamente, seria mais fácil aquele grupo ofendido pelo cão expulsá-lo de seu convívio quando que o correto seria tentar resgatar a dignidade existente naquele ser, que com toda a certeza, retornaria “gentileza” ao receber o mesmo.
Paulo Regent

sábado, 6 de outubro de 2012

EU RECONHEÇO A TUA VOZ

- Quem és tu?
- Ainda não sei, mas reconheço a Tua Voz, e é por Ela que me divido, que me quadriplico, que me multiplico. Eu reconheço a Tua Voz!

- Quem és tu?
- Sou só sonhos e imaginação, já me sinto e me toco, vejo que estou em constante multiplicação, sei que estou em evolução e reconheço a Tua Voz. É por Ela que me construo e me reconstruo.

- Quem és tu?
- Sou pequenino e sou grande, sou de Ti e sou por Ti. Eu reconheço a Tua Voz e outras que, agora ouço. Tu fazes parte de mim e, Contigo, faço parte de outro.




- Quem és tu?
- Ainda não sei, mas estou pronto. Anseio por ver a luz. Reconheço a Tua Voz, que está por todo o meu ser, e me sinto feliz. Ouço muitas vozes agora, a luz é forte e cega momentaneamente, o frio que nunca senti percorre meu ser, e choro...

- Quem és tu?
- Por que tantos sons assim? Eu vejo... Imagens a minha volta. Pegam-me... Tocam-me e me confundem. Preferia quando somente Eras Tu a falar comigo. Eu reconheço a Tua Voz!

- Quem és tu?
- Sou pequenino e muitos falam comigo. Já consigo ver bem e reconheço alguns. Eu reconheço a Tua Voz e a ouço bem quando Falas comigo em meus sonhos. Por que Tens falado comigo tão pouco quando estou acordado?

- Quem és tu?
- Disseram-me que Tu não existes e quando Te ouço é fruto de minha imaginação. Eu reconheço a Tua Voz, mas não posso falar Contigo, tenho agora a cabeça cheia de coisas e pensamentos mundanos, e não consigo mais deixá-la vazia como quando Te ouvia bem.

- Quem és tu?
- Sou um menino agora, tenho sonhos de conquistas, reconheço a Tua Voz, mas está muito distante. Desculpe, pois tenho que acordar e, acordado, não Te ouço mais.
...
...

- Quem sou eu?
- Ainda não sei quem sou, mas estou estudando e em breve serei doutor, e aí sim, serei respeitado e, todos saberão quem sou. Procuro ouvir-Te, algumas noites somente, mas não o ouço mais. Dormindo ou acordado, não o ouço mais!

- Quem sou eu?
- Penso que sei quem sou, mas não tenho certeza. Sou um homem, sou uma ovelha que se perdeu do seu rebanho. Estou perdido e procuro por meu Pastor. Eu sei que reconhecerei a Tua Voz, mas não a ouço mais, porque deixei de ouvi-lo há muitos anos atrás, troquei-o por alguns pecados capitais. O mundo me levou para longe de Ti. Já não Te ouço mais!

- Quem sou eu?
- Somente uma ovelha perdida. Sou pai e invejo meu pequenino filho que Te ouve todos os dias... Todas as horas. Talvez, quem sabe, este pequenino me mostre o caminho de volta?

- Quem és tu?
- Sou Tua ovelha perdida que reencontrou o caminho de volta. Eu Te ouço novamente e reconheço a Tua Voz. Eu atendo ao Teu chamado e caminho de mãos dadas Contigo. Sou parte de Ti e Tu estás em mim. Assim como era no passado, agora e sempre. Por todos os séculos e séculos...         AMÉM!
Paulo Regent

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

DE ONDE VINDES?



         
          Os primeiros raios de luz começam a surgir por entre as montanhas, é o prenúncio de uma linda manhã que se aproxima, pouquíssimas nuvens pontilham a abóbada celeste. Em frente à cadeia de montanhas de onde vem surgindo lentamente o astro rei, a linha do horizonte se estende de ponta a ponta, unindo o azul do céu ao azul das águas do mar. É uma verdadeira pintura, um quadro criado pela mãe natureza, que nenhum de nós, por mais talentoso que fosse, seria capaz de reproduzir. Mas hoje, algo diferente faz parte desta obra prima, três pontos luminosos se encontram, aparentemente fixos em posição triangular e em oposição ao nascente, e lá no ocidente se mantém, misteriosamente, como se a noite ao se retirar, estivesse esquecido de levar consigo, três de suas lindas estrelas.
          Enquanto o sol faz o seu passeio matinal avançando alguns graus, navegando pelo tempo e pelo espaço, as notícias mundanas já se espalham pelo planeta, afinal, nada haveria de escapar a tão avançada tecnologia humana. Os três pequenos pontos de luz, agora um pouco maiores, se aproximam, e todos os cálculos informam que, na verdade, movem-se em velocidade constante, aproximando-se propositadamente desta forma, para um ponto facilmente previsível na Terra. As maiores autoridades do planeta manifestam-se, pedindo autorização para acompanharem de perto este acontecimento, visto não se tratar, com toda a certeza, de nenhuma manifestação natural, mas sim orientada por alguma inteligência extraterrestre. Toda a tecnologia humana terrestre acompanha com ansiedade esta aproximação, que pela velocidade e trajetória, não deixa dúvidas quanto a tratar-se de um pouso programado.
          Algumas poucas horas passaram, somente o contato visual foi feito pelos aviões de caça das bases mais próximas, sem que houvesse nenhuma comunicação, nenhuma atitude hostil foi detectada. Três objetos luminosos se aproximam e, em determinado momento, o triângulo luminoso é desfeito e um ponto apenas se aproxima da Terra, enquanto os outros dois mantém-se imóveis, pairando sobre uma multidão que se formara para assistir aquele espetáculo inédito, afinal... Eles chegaram...
          Um círculo de aproximadamente 1 km de raio é feito pela segurança para manter afastada a multidão curiosa que se formou, apenas os líderes de nosso planeta são autorizados a aproximarem-se um pouco mais. O objeto luminoso, agora mais perto, inicia, muito lentamente, o procedimento de pouso, até que, a alguns centímetros do solo, mantém-se pairando, silencioso, por alguns angustiantes minutos. Não se houve um ruído sequer, de ambas as partes, é um silêncio que transmite expectativa e ansiedade. A ficção transforma-se em realidade, muitos se lembram daquele sucesso mundial nas telas de cinema, exatamente como em “O Dia Em Que A Terra Parou”. Uma fenda surge na estrutura do objeto, de aparência metálica e agora menos luminoso, uma porta se abre, três seres descem e pisam a terra, um deles mais a frente e os dois outros parados um pouco mais atrás. Um dos líderes daqui da Terra, previamente escolhido, aproxima-se para manter contato, quando o líder deles ergue a mão direita, em sinal de “Pare!”. Com a mão esquerda aponta para um homem desconhecido dos demais, que se encontra mais afastado, e sinaliza que se aproxime. Ninguém contesta e então o homem se aproxima do extraterrestre até que os dois ficam há pouca distância um do outro, os olhos humanos, um pouco menores e mais claros fixam-se nos olhos maiores e serenos daquele ser, alguma informação parece ser trocada, até que o humano terrestre inicia o diálogo.
- Sois Humano?
E o extraterrestre responde, fluentemente, como se fosse um morador local.
- Meus Semelhantes assim me reconhecem.
- De onde vindes?
- De uma galáxia Justa e Perfeita, bem próxima daqui, porém ainda inatingível por vós.
- Que trazeis?
- Votos de Amizade e Paz de todos os nossos Irmãos deste Universo.
- Nada mais trazeis?
- O Grande Mentor de minha galáxia vos saúda da forma que mostramos do alto, ao chegarmos a vosso planeta.
- O que se faz em vossa galáxia?
- Construímos Templos e Masmorras com as mesmas finalidades que vós.
- O que vindes fazer aqui?
- Dizer-vos que continuem perseverantes, a submeterem vossas vontades, pois só assim vencerão vossas Paixões. Mostrar-vos como é Sábia, Forte e Bela a Grande Fraternidade Universal e assim fazermos progressos, estreitando esses laços de fraternidade que nos unem como filhos do Grande Geômetra.
- O que desejais?
- Mostrar-vos que tendes um lugar entre nós, e que este já vos fostes concedido há milênios atrás, mas que ainda não evoluístes o bastante para o ocupares. Transmita a todos, que a evolução tecnológica não é por si só suficiente, haverá que se evoluir também, em paralelo, moralmente, e que este primeiro contato, tem por finalidade, conduzir-vos ao lugar que lhes compete por direito.
          E o extraterrestre, que se disse também humano, passou às mãos do escolhido uma pequena, dourada e reluzente pedra, pedindo que a guardassem, pois seria de agora em diante, o símbolo deste e dos próximos encontros que aconteceriam, e que a cada encontro, esta pedra se transformaria aos poucos, numa bela, dourada e reluzente Pedra Polida, quando então este seria o sinal do encontro formal e definitivo com os Irmãos do Planeta Terra.


Tornou-se aterradoramente claro que a nossa tecnologia ultrapassou a nossa Humanidade” 
(Albert Einstein)

Paulo Regent

terça-feira, 4 de setembro de 2012

PERSEVERANÇA


           
          O tempo nos parece líquido, flui como água, escorre por nossas mãos, entre os dedos e não há como segurá-lo, não há como pará-lo, e quando percebemos ele se foi. Tudo passa nessa vida, a nossa própria vida passa, e quanto mais velhos ficamos mais rápido ela se vai, ontem mesmo eu tinha 12 anos e jogava bola com os amigos no Colégio Salesiano de Niterói, depois também lá no Liceu Nilo Peçanha, bons tempos... Pois é, acho que a vida é assim, as coisas vem e vão, como as ondas, umas atrás das outras, substituindo-se umas às outras, sempre depois que uma se vai outra aparece e a substitui. Por isso, temos sempre que dar o nosso melhor em tudo o que fizermos, em qualquer atividade em que tivermos empenhados, porque tudo é passageiro, se não se faz algo de útil quando se pode, talvez não se tenha outra oportunidade, e deixamos de ser úteis quando pudemos. Portanto, se você é dirigente de algum clube, se está a frente de algum grupo social, se tem pessoas sob a sua administração, você não está ali por acaso, seja útil a este grupo, ou quem sabe possa ser útil a mais pessoas, à sua própria comunidade, projete, realize, construa, transforme, faça a sua parte, pois Deus fará a dele. Não há a mínima necessidade de se fazer grandes empreendimentos, façamos pequenas coisas, uma após a outra, pois pequenos empreendimentos são mais fáceis de se realizar. Procuremos nos acercar de pessoas com o mesmo objetivo, e então a obra se realizará, com toda a certeza. Mas temos que dar o primeiro passo, e seguirmos degrau por degrau, uma pequena boa ação aqui outra ali, e quando percebermos, teremos feito muito. Só não podemos deixar a oportunidade passar, senão, só na próxima encarnação.

"A perseverança não é uma longa corrida; ela é muitas corridas curtas, uma depois da outra." (Walter Elliott)

Paulo Regent

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A VAIDADE


Um menino e seu avô conversando...
- Vovô, o senhor é vaidoso?
O Homem ficou surpreso com a pergunta do menino, afinal tem apenas nove anos.
- E por que me pergunta isso? Disse o avô.
- É que eu ouvi o senhor conversando com aquele seu amigo, que o senhor chama de Irmão. Lembro que falavam sobre vaidade e diziam como era ruim. Afinal, o que é vaidade vovô?
O avô olha para o pequenino, coça o queixo com a barba grisalha já por fazer, e tenta achar uma resposta que o faça compreender.
- Lembra-se do seu ursinho de pelúcia branco, que ganhou no Natal quando tinha seis anos, e sua prima queria brincar com ele e você chorou muito e não deixou?
- Sim, vovô, eu me lembro.
- Pois é! Aquilo é o ciúme. Você gostou tanto do ursinho que não queria que ninguém o tocasse. Mas depois que conversamos, mesmo choramingando um pouquinho, você controlou o seu ciúme e emprestou.
- Você lembra quando fomos visitar o titio e tivemos que pegar a barca, e você disse que não iria, pois estava com medo que a barca afundasse? Só depois que conversamos com você por alguns minutos, lhe dizendo que estávamos juntos e que nada iria acontecer, você tomou coragem, controlou o seu medo e entrou conosco?
- Sim, vovô, eu me lembro.
- Então, vaidade meu filho, é como o ciúme e como o medo, todos nós possuímos. Não há como não ter, só precisamos mantê-los sob controle, em níveis bem baixos. Quando um ser humano não consegue controlar a sua vaidade, muitas coisas ruins podem acontecer com ele. Vaidade é quando você faz algo de bom e espera por elogios, por aplausos ou por recompensas depois. Você gosta quando alguém lhe faz um elogio?
- Sim, eu gosto.
- Pois, então, todos nós gostamos de elogios, porém devemos sempre fugir deles, mas sempre fazer por merecê-los. Nunca devemos fazer alguma coisa pensando em recompensas, ou nos elogios, ou nos aplausos, mas fazer porque aquilo deve ser feito, porque vai ajudar a alguém. A vaidade não leva a nada!
Quando se faz algo pensando em recompensas, elogios, e eles não vêm, chega em seu lugar a frustração, e isso também não é bom. Porém, se o fizermos sem esperar nada em troca, não será importante se ninguém aplaude ou elogia, porque não era essa a nossa intenção, mas sim ser útil. Quanto à sua primeira pergunta, se sou vaidoso, respondo-lhe que sim, como qualquer pessoa, mas aprendi com o tempo como mantê-la sob controle, em níveis muito baixos, gostaria muito que tivéssemos o poder de extingui-la para sempre, mas sabemos que isso é impossível, porque a vaidade é inerente ao ser humano.

Vaidade consiste em uma estima exagerada de si mesmo, uma afirmação esnobe da própria identidade.” - Citações do Wikiquote.
Paulo Regent
 

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O ESPANTALHO


          A lua cheia deixa derramar o seu luar sobre o terreno coberto com a plantação de milho, enchendo de luz cada espiga, fazendo-as semelhantes a pequenas luminárias acesas, pequenos candeeiros de pé, dourados e reluzentes, transformando aquela grande propriedade agrícola, num enorme e deslumbrante quadro de luzes prateadas e douradas. No meio a esta beleza reluzente, lá está ela, uma figura tosca, rústica, grosseira, o grande rei do milharal, destoando com aquela imensa harmonia. Ao longe os grilos entoam seus cantos para atrair suas fêmeas à cópula, os insetos noturnos exaltam o luar de prata sobrevoando os campos dourados num show que só a mãe natureza poderia conceber. E lá está ele, o senhor espantalho, que só assustaria mesmo algum dessabido, que estivesse passando por ali aquelas horas, e que houvesse esquecido de sua existência no meio do milharal.
O sol então dá o seu primeiro sinal de vida, lá do oriente, os primeiros raios de sua luz iluminam a noite que se vai. Os pássaros já cantam alto e sobrevoam a procura de alimento para os filhotes.
- Ah! Agora sim... O grande rei do milharal vai mostrar o seu poder. Nada haverá de se aproximar desta plantação. Fala então o espantalho com os botões do seu paletó.
Neste momento, um bando de corvos se aproxima, e pousa sobre o arame da cerca que limita a propriedade.
- Olá espantalho! Acho que esses apetitosos milhos já estão prontos para a colheita, não? Disse o corvo líder.
- Não se aproximem de minhas plantações, seus inúteis! Nem ousem!
- Inúteis? Suas plantações? Ah!Ah!Ah! Gracejou o corvo líder, e continuou...
- Vejamos bem quem é o inútil aqui... Enquanto fala, o corvo líder pega uma espiga e a debulha, dividindo os grãos com os seus parentes, companheiros de voo.
- Parem com isso ou eu... Neste momento é interrompido pelo corvo.
- Ou eu o que? Não me diga que você vai sair daí dessa sua zona de conforto para me espantar. Fica aí o tempo todo enganando os trabalhadores do campo, de braços abertos como o rei do pedaço, e nós nem ligamos pra você. O que nós pegamos todos os dias não é nem percebido por eles, porque há muito para se pegar, e você, na verdade, não serve pra nada. Lógico que eles lhe adoram e lhe veneram, achando que sua presença no milharal impõe respeito. Mas, na verdade, você não espanta nem as borboletas. Ah!Ah!Ah!.
- Assim vocês me humilham. Eles me colocaram aqui achando que a minha presença espantaria os pássaros que comem as espigas, que a nossa plantação seria próspera, que eu trabalharia do sol a pino até o findar do dia.
- Pois é, espantalho, mas ainda bem que você se acomodou, só assim podemos roubar um pouquinho desse milho delicioso. No início mostrou até serviço, mas ficou só no início mesmo, hoje você só quer saber de ficar aí de braços abertos, com essa cara de sábio, mas que na verdade, debaixo desse seu chapéu só tem palha mesmo.
- Pelo menos, eu sirvo pra alguma coisa! Disse o espantalho. Se eu realizasse algo de útil mesmo, vocês morreriam de fome. Eu sei que tenho muito por fazer, mas pra que? Está tão confortável aqui! Daqui de cima, eu vejo os caras trabalhando, semeando, colhendo, vejo até vocês comendo algumas espigas, e daqui há algum tempo, eles me trocam por outro espantalho, eu vou é deixar rolar. O próximo é que se preocupe com a fazenda!

- Pois bem! Exclamou o corvo. Nós vamos fazer uma coisa por você. Logicamente não vamos parar de comer o milho, por outro lado, você também não tem competência nenhuma pra espantalho. Uma vez ou outra, vamos passar por aqui em bandos, justamente quando os trabalhadores estiverem na colheita e fingiremos um ataque. Você vai aproveitar o sopro do vento e vai balançar os braços com firmeza. Então sairemos em revoada, simulando muito medo de você, e iremos embora por aquele momento. Um dia, sabe-se lá quando, vai surgir alguém meio a esse povo que vive aí nesse enorme campo verde e amarelo do milharal, um cara honesto, de fibra, de coragem, um líder de verdade, que vai acabar com esse nosso trem da alegria, com as nossas festas, com as nossas falcatruas, pode ser até que ele nem tenha nascido ainda. Ah!Ah!Ah!.
- Muito bom! Disse o espantalho. Sendo assim está feito! Eu vou continuar respeitado como o rei do milharal e vocês poderão fartarem-se a vontade... Mas olhem lá, hein! Não vão me criar problemas. Sejam discretos para que ninguém perceba nada. Coloquem os milhos sob as asas, entre as penas e não deixem que ninguém perceba. Podem trazer seus parentes também, mais com muita discrição...sempre!
E até hoje, tudo continua assim, o povo do campo verde e amarelo do milharal, continua acordando cedo, com o raiar do sol, trabalhando até o findar do dia. Os corvos continuam roubando o fruto de seus trabalhos, o delicioso e rico milho dourado, trazendo seus parentes e familiares para comerem juntos, porque a terra é fértil e há muito para se colher, até que um dia, quem sabe, um líder de verdade apareça, para mostrar a esse povo, que o espantalho, na verdade, é só um enfeite, e que precisamos mesmo é de gente honesta e não de... CORVOS e ESPANTALHOS.
Paulo Regent

sábado, 7 de julho de 2012

DIVINA

         
          Havia um homem, que mendigava pela cidade, pedindo esmolas a todos que passavam. Sem rumo certo, ia daqui pra ali e de lá pra cá, não tinha um lar, e mal se alimentava, pois era um “invisível”, ninguém lhe dava atenção, ninguém se interessava por ele. Costumava pegar restos de comida nas lixeiras dos restaurantes e lanchonetes, antes que fechassem as portas e jogassem o lixo fora, e era assim que êle conseguia matar a sua fome. Durante a noite, acomodava-se debaixo de uma marquise na rua principal, e ali mesmo dormia. Quando o dia amanhecia tudo começava novamente, as pessoas passando para os seus trabalhos, os jovens estudantes dirigindo-se para as suas escolas e, afinal, quem iria parar para dar atenção aquele malcheiroso e sujo, sentado na calçada a pedir uns trocados? Todos tinham as suas vidas e seus compromissos, quem iria se importar com aquela pessoa que nada tinha a oferecer, somente a pedir?
         Certa manhã, acordou o pobre homem como sempre, sem esperança e achando-se sem destino, mas algo havia de diferente, meio a todo aquele turbilhão de derrotas e tristezas, lembrou-se do sonho da noite passada, que havia sonhado com sua mãe, esta lhe aparecera linda e jovem, como era quando ele ainda era pequenino, um lindo sonho, e ela lembrou-lhe do que lhe ensinara no passado, antes de sua morte, que Deus não abandona ninguém, mas nós sim é que o abandonamos, e lhe pediu que conversasse com ele esta noite, uma conversa de filho para Pai. E assim fez! Seguiu sua rotina durante o dia e a noite voltou a sua velha marquise, mas desta vez, antes de dormir, conversou com Deus, desabafou, chorou e lhe pediu perdão por tê-lo abandonado desde que sua mãe falecera, nunca mais havia voltado a conversar com Êle, havia perdido a Fé, ficara até revoltado com Êle por ter levado a sua mãe tão cedo, por ele ter rolado de casa em casa de parentes, sendo maltratado por eles até fugir e largar-se no mundo. E assim adormeceu antes de terminar aquela conversa.
          Algumas noites se passaram... Vários dias amanheceram após aquela conversa com Deus, e tudo parecia como antes, a mesma rotina, nada... exceto... uma cadela que na noite passada chegou-se a deitou-se ao seu lado, para aquecer-se e como estava realmente muito frio, o mendigo não se incomodou, pois ela também o aquecia. Como não tinha com quem conversar, falava com a cadela, que o olhava como se o entendesse:
__ Eu não sei o que você viu em mim, sou um pobre coitado que não tem onde cair morto, não tem o que comer e o pouco que consigo ainda tenho que dividir contigo. Não sei por que Deus me mandou você? Agora são dois a passar fome!
E a bichinha só lhe abanava o rabo!
          No dia seguinte, o homem acordou com três jovens moças que passavam para ir à escola e pararam por causa da cachorrinha. Elas riam e brincavam com ela:
__ Mas que cadelinha bonitinha, como é o nome dela? Ela é sua?
          E enquanto o homem respondia as perguntas, outras pessoas que passavam, iam colocando algumas moedas em sua caixinha que, até alguns dias atrás, nunca havia visto uma só moeda, e tudo por causa das jovens e da cadelinha, sensibilizando assim alguns transeuntes. E todos os dias mais jovens paravam para brincarem com ela e, cada vez mais, a caixinha do pedinte ficava mais cheinha, já dava até para ele almoçar e comprar ração para ela. Pouco tempo depois, aquilo tudo que acontecia ali na rua chamou a atenção de um repórter de jornal que fez uma bela reportagem sobre aquilo tudo. Conversou várias horas com ele, sobre sua vida, sua história e sobre a cadelinha “Divina”, foi assim que ele passou a chamá-la. Sua história correu o mundo, e três dias depois, sua vida não era mais a mesma, muita gente o procurara, já havia conseguido tratamento de saúde, um emprego e um lugarzinho pequenino, mas quente e aconchegante para ele e sua “Divina” morarem.

          Se essa história lhe parece familiar, não pense que é um plágio, ela é muito comum, e existem muitas versões dela na vida real. Quantas vezes você deve ter conversado com Deus, foi atendido, e nem percebeu? Quantas pessoas abandonam sua fé e custam a perceber que não foi Deus quem os abandonou?

Eu dedico este texto a você, que o lê neste momento, e com certeza não chegou aqui por uma coincidência.

A felicidade não entra em portas trancadas.” (Chico Xavier)
Paulo Regent


sábado, 12 de maio de 2012

O GATO E O RATO


          
          O gato leva uma vida de rei, adorado que é pela família de humanos, que o trouxeram pequenino ainda para aquela casa. É bem alimentado, tem sua caminha quentinha, ração das melhores, leitinho quente a noite, volta-e-meia sobe no colo da menina que o acaricia por longas horas, dormindo e ronronando de prazer. Que vida boa tem esse gato! Depois que o trouxeram para morar ali, pouco a pouco o gato vem acabando com a farra dos camundongos, que saem principalmente a noite para procurar comida pela casa, tendo sido avistados frequentemente pelos humanos, que os detestam, passeando pela casa. O gato vem, realmente, cumprindo o seu papel de predador.
          Já os camundongos, coitadinhos! Levam uma vida desgraçada, caçados por todos os lados pelo gato quando saem de sua toca para tentar pegar algum resto de comida, que porventura, os humanos tenham deixado cair, ou esquecido sobre algum prato sujo.
          E com o passar do tempo o gato realmente cumpre sua tarefa, e com muita competência, tanto que quase conseguiu extinguir de vez com os camundongos da casa, só restando um, que pelo fato de ser esperto e veloz, ainda não havia sido apanhado pelas garras do gato. O calungo já não aguenta mais aquela vida, agora solitário, sem família, se alimentando muito mal, pois o gato praticamente vive cercando sua toca, não o deixando sair para comer. Desiludido, o camundongo resolve abandonar aquela casa e procurar uma outra para morar, talvez um lugar onde não haja gatos e com muita comida para roubar. E assim o fez! Numa noite de lua cheia, pegou sua trouxinha, colocou-a sobre os ombros e foi-se embora.
          Quatro meses se passaram e o gato que era magrinho e esbelto, se transformou numa bola de pelos, gordo, remelento, comilão e dorminhoco em demasia, pois já não fazia tanto exercício quanto fazia quando o camundongo morava na casa. Já não precisava mais correr pelos corredores atrás daquela pestinha que fazia com que as mulheres da casa subissem sobre as cadeiras, implorando ao gato que pegasse o bichinho ou o espantasse para bem longe delas. Elas gritavam, levantando as saias! E depois que o bichinho voltava ofegante para a sua toca elas beijavam o gato, davam-lhe presentes, como algumas guloseimas que o gato tanto apreciava, como prêmio pelo bom trabalho. Mas isso tudo havia acabado, pois o camundongo sumira e o gato transformara-se num preguiçoso. A família já não o tratava como antes, ocioso que estava, já não era mais tão necessário assim, já dava despesas, incomodava e era enxotado quando tentava subir no colo da menina, pois soltava muito pelo causando alergia na filha dos humanos.
           E o tempo foi passando, o gato já não morava mais dentro de casa, sua caminha antes tão aconchegante, foi colocada na porta da casa, lá fora, a mercê do vento e do frio da noite. O gato estava triste, desolado, não havia nem mesmo um mísero catito para ele pegar, pois ele acabara com todos, praticamente exterminou-os, e agora, o bom serviço que fizera antes não era mais reconhecido pela família, praticamente o esqueceram, sua comida era racionada pois forçaram-no fazer um regime.
           Eis que então, uma bela noite, lá estava o gato coçando-se e lambendo-se na porta da casa quando avista um pequeno ratinho veloz, correndo sobre o muro. O camundongo pára por um instante e avista o gato. Mal acreditava em seus olhos, aquele bicho maltratado, deitado na porta da casa era aquele gato bonito e mal, que o perseguia dia e noite.

- Olá bichano! Exclamou o camundongo. Como vai? O seu reinado acabou ou colocaram outro gatinho lá dentro para reinar?
- Que nada, disse o gato. Depois que você foi embora, sendo o último dos camundongos, meus serviços deixaram de ser necessários e aqui estou, desprezado e abandonado.
- Pois é, disse o ratinho. Nós custamos a perceber que precisamos um do outro para sobreviver, principalmente você, espero que tenha aprendido uma lição, pois achava-se o “Todo Poderoso da casa” e nunca imaginou que sua vida dependesse da minha, não é mesmo?
- O gato então, numa humildade nunca vista, convidou-o a voltar a morar na casa, fazendo um acordo com ele, pois assim a família voltaria a precisar dele e, ele em troca, faria vista grossa para algumas de suas escapulidas para pegar comida.

           E naquela mesma noite, ouviu-se gritos de pavor dentro da casa. Um rato! Um rato! Tragam o gato! E quando trouxeram o gato, foi um show de ambas as partes, o camundongo saltava pelas paredes aterrorizando ainda mais as mulheres da casa, o gato dava saltos ornamentais tentando pegar o ratinho. Os dois passaram um bom tempo naquela perseguição teatral, até que o gato piscou o olho para o ratinho e este respondeu da mesma forma entrando em seguida em sua velha toca na parede. A família muito satisfeita e feliz colocou logo a velha caminha do gato na sala novamente, encheu seu pratinho de leite quentinho, colocou a sua ração, a menina pegou o animal no colo e passou a afagá-lo como antigamente. O gato, feliz da vida, ronronava enquanto observava, sorridente, o camundongo sair de mansinho de sua toca para pegar alguma comida para a longa noite que viria. Um piscou o olho para o outro e a vida seguiu assim, como num conto de fadas, felizes para sempre!

Cada um nessa nossa vida tem o seu papel. Por mais insignificante que possa parecer, tem a sua real importância. Só precisamos reconhecer o nosso lugar, aprendermos a conviver com as pessoas a nossa volta e assim, o desempenharmos bem, seja ele grande ou pequeno, principal ou coadjuvante, mas com certeza, nem mais e nem menos importante.”

Paulo Regent

terça-feira, 1 de maio de 2012

SIMPLESMENTE... JOSÉ.

         
          Quando ouvimos o nome José, o primeiro personagem que nos vem à mente é São José ou simplesmente... José, personagem bíblico do novo testamento, marido da mãe de Jesus Cristo. Muitos “Josés” célebres, ilustres, existiram, e que fizeram este nome simples muito conhecido, como por exemplo, “José, filho de Jacob” outro personagem bíblico, este do antigo testamento; José Bonifácio de Andrada e Silva conhecido como "Patriarca da Independência" por ter sido uma pessoa decisiva para a Independência do Brasil, e muitos outros... Mas houve um “José”, não tão famoso como estes outros citados anteriormente, que passou aqui pela nossa cidade, caminhou por Niterói e Rio de Janeiro pelos anos 60 a 90.
Na década de 70, lembro muito bem, era conhecido pelas crianças e adolescentes de Niterói como louco, pois vagava pelo centro da cidade, implicando com as mulheres que usavam maquiagem e saias curtas, talvez não o tivéssemos entendido bem naquela época, pois excetuando-se as ríspidas broncas nas mulheres pintadas e de saias curtas, ele costumava falar às pessoas que passavam, palavras positivas de amor e principalmente “gentileza”, e foi assim que ficou muito conhecido por aqui, “O Profeta Gentileza”. Sua frase “Gentileza Gera Gentileza”, que costumava pintar pelas paredes e viadutos da cidade e acabou virando arte, ficou conhecida no Brasil inteiro. Tive o privilégio de vê-lo falar às pessoas, na Praça Araribóia no centro de Niterói, dentro das Barcas na travessia Rio-Niterói e mesmo na Praça XV já na cidade do Rio de Janeiro. Ele assumia uma atitude de profeta realmente, suas vestes eram muito parecidas com as que os Josés bíblicos usavam, tinha uma longa barba e cabelos compridos, uma voz rouca, talvez por tentar falar alto para que todos o ouvissem. O que conta mesmo é o que ficou disso tudo, tenha sido ele louco ou não, algumas vezes sofrendo da zombaria, chacota das crianças e alguns adultos desocupados, dedicou grande parte de sua vida a passar o positivismo de suas palavras e escritas às pessoas. Se, por acaso, tivéssemos todos, seguido um pouco daquilo que ele pregava, quem sabe se a relação entre as pessoas de hoje em dia não fosse um pouco melhor, mas nunca é tarde para isso, não é mesmo? “Gentileza Gera Gentileza” é uma verdade universal, é uma energia forte, que se usada, poderá desencadear uma enorme explosão de sorrisos, de boas ações, de relacionamentos amigáveis, de boa conduta e sociabilidade. Talvez, este ”homem louco”, soubesse muito mais das leis espirituais que sabíamos naquela época e que sabemos hoje em dia, suas mensagens simples nos queriam, talvez mostrar, que a vida é, na verdade, muito simples, nós é que a complicamos. Essa nossa corrida exagerada pela aquisição de bens materiais, status na sociedade, sucesso profissional, transformou-se numa enorme venda, nos ocultando o verdadeiro sentido da vida, que é essa nossa interconexão espiritual, essa nossa necessidade uns dos outros que esquecemos com o passar dos séculos. Precisamos mesmo uns dos outros, somos seres sociais, sozinhos nada somos, e quem sabe não seria uma boa idéia começarmos com gentileza. Alguém já percebeu como é poderosa a força da gentileza? Tente... Comece praticando algum tipo de gentileza e observe como ela se espalha rapidamente, e acaba retornando para nós mesmos de uma forma saudável e renovadora.
José Datrino, o Profeta Gentileza, faleceu em Mirandópolis, cidade de seus familiares, onde foi sepultado, em 28 de maio de 1996, aos 79 anos. Talvez passemos por alguém neste dia, que esteja usando camisetas com a frase no peito, em sua homenagem “Gentileza Gera Gentileza”. Não deixemos que sua vida tenha sido em vão, não deixemos que suas mensagens tenham sido em vão. Pratiquemos, por um mundo melhor!

Paulo Regent

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A FÁBULA DA RAPOSA


          A reunião começou, como sempre, pontualmente às 20:00h. O Bode Josué, atual presidente, pede ao Cão Pastor que guarda a entrada, que observe se não há perigo de que algum humano esteja observando. O Cão Pastor ladra e dá o sinal de positivo quanto a estarem seguros. O Bode Josué então dá prosseguimento à reunião, declarando aos animais presentes o motivo desta convocação extraordinária.
___ Senhores! Esta convocação tem por objetivo, decidirmos quem será nomeado para gerente do galinheiro, visto que este se encontra desprotegido durante a noite em virtude dos Galos Vermelho e Azul estarem ocupados, em constante vigilância do sítio. Peço aos senhores Galos, Vermelho e Azul, que apresentem cada um as suas sugestões e eu apresentarei a minha logo em seguida, para então decidirmos.
O Galo Azul então, bate suas asas e canta o primeiro candidato:
___ Apresento a todos o Gato Preto, é exímio caçador, enxerga bem à noite, é chegado aos humanos, mas não se submete a eles. Creio ser um excelente candidato.
O Galo Vermelho então, bate suas asas e canta o segundo candidato:
___ Apresento a todos o Cão Pastor, tem a experiência de já ser o guarda da entrada do sítio, é inteligente, conhece bem os humanos e tem uma boa convivência com eles.
O Bode Josué então lança o nome do terceiro candidato:
___ Apresento a todos a Dona Raposa, muito esperta, sagaz, astuta e não deixará o nosso galinheiro e tudo de precioso que temos dentro dele, correr nenhum perigo.

           Alguns se voltam de imediato contra a candidatura do Gato Preto. O Porco Espinho logo se manifesta:
___ Mas, porque o Gato Preto? Ele é perigoso e é bem capaz de comer os pintos. E além disso é preguiçoso, só vive se lambendo e dormindo.
           Alguns outros se mostram contra a candidatura do Cão Pastor, alegando que ele seria muito bobo, bastando um assovio para deixá-lo desconcentrado, e se for lançado um osso ao longe sairá de seu posto para pegá-lo.

           Então entra em cena a Dona Coruja, respeitada pela sua sabedoria, a mais antiga moradora do sítio, além de voar e viver durante a noite, observando tudo que se passa enquanto os outros se encontram adormecidos.
___ Meu caro Bode Josué, com todo o respeito, gostaria de lembrar-lhe do ocorrido há alguns anos atrás, quando a Dona Raposa que naquela época também era uma das candidatas a Gerente do Galinheiro, lembra? Ela foi flagrada roubando e comendo os nossos preciosos ovos e por isso, foi punida e até o momento nunca se cogitou seu nome para nenhum cargo relevante.
Fala então o Bode Josué:
___ Todos nós lembramos, mas ela diz-se arrependida, e como animais de bem que somos, temos por obrigação perdoá-la.
Dona Coruja, usa então a sua sabedoria para convencer a todos, e acabar de vez com a dúvida em quem votar.
___ Meus queridos! Pensemos um pouco. A Dona Raposa já foi por todos nós perdoada, tanto que ela convive conosco até hoje, não a expulsamos do sítio. Mas todos nós sabemos que o fraco dela são os ovos. Se ela os comeu algum dia, certamente, se houver outra chance, os comerá de novo.
E todos os animais então convieram com a Dona Coruja e resolveram nomear o Cão Pastor para o cargo.

Moral da História: “Perdoar a Raposa após o seu arrependimento é nossa máxima obrigação, mas nomeá-la Gerente do Galinheiro, seria repetir o erro e imperdoável .”

Paulo Regent

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O FILHO DA VIÚVA


          O Sr. Abiel é dono de uma grande banca de frutas na praça da cidade e todos os dias é visitado pelo mendigo Jacob, que vem lhe pedir uma fruta e umas moedas cunhadas. Abiel, homem religioso, nunca negou o pedido do Jacob, mesmo sabendo que ele usava as moedas para comprar algumas doses de bebida alcoólica e dormir na calçada, embriagado, até o cair da tarde. Percebeu que um homem o acordava e ficava a conversar com ele por vários minutos e, antes de ir-se embora, dava-lhe uma garrafa com água e depois partia. E isso repetiu-se por algumas semanas, até que Abiel começou a perceber mudanças no mendigo. Ele continuava a vir pedir-lhe uma fruta pela manhã, recebia as moedas dele, mas já não se embriagava, e sim, comprava sempre algo diferente para comer durante a noite. Como todos os dias pela manhã, chegou Jacob “o mendigo” para falar com o Sr. Abiel, que foi logo pegando uma maçã e algumas moedas e oferecendo a ele. Jacob aceitou a maçã, agradeceu, porém desta vez não aceitou as moedas, e em lugar delas, lhe pediu trabalho. Abiel espantou-se com gigantesca mudança de atitude, e mais ainda quando observou que o estranho que conversava sempre com ele, estava ao longe observando tudo sorrindo, e logo depois partiu como sempre fez.
          Não suportando tanta curiosidade, o comerciante perguntou ao mendigo o que o fez mudar tão rápida e radicalmente de atitude. Jacob sorriu e começou a lhe contar:
-Aquele senhor, diariamente, durante algumas semanas, conversou comigo e me falou muitas coisas sobre a minha própria vida que eu não enxergava e que me fizeram mudar de atitude. No início ele perguntou se eu queria mudar e sair daquela vida. Eu respondi que sim, mas não tinha forças. Então ele trouxe uma garrafa com água, e pediu que eu bebesse todos os dias. Era um líquido amargo e disse que me ajudaria a abandonar o álcool. Explicou-me que quando eu conseguisse me recuperar, lembraria sempre do amargor daquela água, e do tempo em que eu vivia bêbado dormindo na calçada, e depois, quando não precisasse mais bebê-la, apreciaria muito mais a água comum, o alimento saudável, e daria muito mais valor a vida, pois teria conhecido o seu lado amargo, o seu lado cruel. Contou-me sobre o significado do meu nome, Jacob “aquele que vence”, e me falou para não ter pressa, que pensasse sempre durante a noite nas coisas que ele me falava, que bastava que eu subisse um degrau por vez, sem ter a necessidade de saber o que teria no final da escada, mas sempre ir em frente, um passo após o outro. Contou-me lindas passagens da Bíblia, e seu significado, de como Salomão construiu o Templo de Jerusalém e sobre a antiga arte de seus construtores. Coisas de que eu já havia ouvido falar, mas não com aqueles detalhes, que me prenderam tanto a atenção. A sabedoria, a força e a beleza de suas palavras foi o que me reergueu tão rapidamente, pois entravam em meus ouvidos como música suave e lapidavam o meu espírito. Eu sonhava com aquelas histórias, eram como as ondas do mar trabalhando sobre as pedras, fazendo-as polidas e belas. Agora eu sei que o homem e o trabalho são como o corpo e a alma, o primeiro não é nada sem o segundo. Por isso, Sr. Abiel, além de estar aqui hoje para lhe agradecer a tolerância que teve comigo, vim pedir-lhe trabalho e não moedas.
- Puxa, Jacob, eu estou até emocionado com a sua metamorfose e a determinação daquele senhor em ajudá-lo. Claro, venha trabalhar comigo! Mas me diga, quem é aquele homem, pois nunca o havia visto por aqui antes?
-Falou-me, por várias vezes, que era filho de uma viúva e que vinha de uma tal de Loja de São João, cuja divisa é a “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Seu Abiel ficou calado por alguns segundos, pois aquelas palavras lhe eram bem familiares, seu avô as usava muito... e com os olhos úmidos falou baixinho:
-Ah! Meu amigo Jacob, já percebi tudo. Aquele era simplesmente um verdadeiro homem de bem, e isso é o que importa.

VAMOS AO TRABALHO!!!

O homem de bem é como um diamante lapidado, jamais voltará ao estado bruto. Pode-se pisar nele e até jogá-lo na lama, que mesmo no fundo do poço ele sempre será um diamante.” (Paulo Regent)
Paulo Regent


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

FELIZ CICLO NOVO

          A esperança sempre se renova no começo de cada novo ciclo. Que possamos, um dia, compreender que devemos concentrar toda a nossa fé, toda a nossa energia para fazermos deste mundo um lugar melhor para se viver. Vamos crer que é possível! Que a paz é possível... Que o amor existe... Que o velho que se vai, deixa-nos a experiência e a sabedoria e o novo que chega será a continuidade de tudo de bom que se iniciou. Que a felicidade seja nosso caminho, que o compartilhar seja a nossa meta, que possamos compreender que o direito é igual para todos. Que na verdade não morremos, mas transmutamos. Que a vida não termina aqui, que somos seres eternos... Vamos crer que é possível... Sim, é possível! Que possamos sorrir e recebermos de volta um sorriso; Que possamos ser felizes e contagiarmos aqueles a nossa volta; Que possamos agradecer porque assim teremos recebido uma graça; Que possamos repartir porque é sinal que não nos falta; Que possamos ouvir mais do que falar; Que possamos falar só o necessário; Que possamos perdoar quando ofendidos; Que possamos aprender que é possível nunca nos ofendermos; Que possamos transmitir a paz porque assim a paz estará conosco; Que possamos sempre sonhar e realizar; Que possamos sempre perceber, que a medida em que aprendemos, muito ainda teremos a aprender. Que possamos perceber que não importa se vamos devagar, que o importante é nunca parar. Que possamos estar sempre unidos, e que sejamos dignos do amor que recebemos do Divino Mestre Jesus.

"Que possamos sempre lembrar que uma pequena gota de boa vontade é o bastante para provocar um tsunami de boas ações."

Paulo Regent